ALGARAVIAS de Waly Salomão

ALGARAVIAS de Waly Salomão
ALGARAVIAS de Waly Salomão

domingo, 27 de março de 2011

No seu orkut ou no meu?


Tem gente que não consegue dormir sem antes fazer um login neste site de relacionamento. É uma relação viciante, convenhamos. Tenho outra teoria ainda sobre este assunto: quem cancela ou encerra sua conta neste site não faz por falta de interesse, mas sim por desespero e falta de controle. O orkut já estava tomando conta que quase todas as suas horas na frente do computador.



Realmente é tentador. Pense bem: você pode fuxicar a vida dos outros sem ter que passar por determinadas burocracias da vida em sociedade. "Olá, tudo bem?; Nossa, esse tempo não é?; E a sua família, como vai?"... Não tem nada disso no orkut. A vida das pessoas está lá, a distância de um toque. Tudo bem que cada um só conta o que quer de si e muitas das informações ali contidas são bem fantasiosas. Mas quem quer ser 100% sincero num espaço 100% virtual?



Nos perfis não encontramos defeitos, tampouco desvios de carater. Isso desumaniza um pouco seus usuários. Todos perfeitos, em fotos tratadas, em viagens fantásticas. É o grande mercado da imagem. E todo mundo quer vender bem o seu peixe, é ou não é? Pode-se dizer que sou um romântico, até mesmo na hora de usar essas ferramentas da internet. Reencontrei minha mulher, uma antiga colega de escola, neste site de relacionamento. E daí, como eu mesmo disse, nasceu um relacionamento, uma paixão, um amor. Acho que para mim funcionou como deve ser: site de RELACIONAMENTO.



Mantenho meu perfil até hoje. Está ativo desde 2006. Não pretendo encerrá-lo nem migrar para o facebook. Como um romântico, que gosta das coisas à moda antiga, ainda participo das comunidades, posto minhas ideias nos fóruns, e não faço das minhas comunidades extensão do meu perfil (como a maioria faz). Mas sem recriminações. Façam o que quiserem, mas com responsabilidade. Quem sabe usando à moda antiga, como eu, você não esbarra com seu amor, lá do passado? (B.A.S.)

quinta-feira, 24 de março de 2011

Você tem fome de quê?


Com certeza outras crônicas já foram escritas usando este trecho da música dos Titãs como pretexto ou inspiração. Não farei diferente, quem sou eu. O tema é bom e imprevisível.

Eu tenho fome de justiça. É tanta coisa errada que a gente vê por aí. Nosso trabalho, dentro da própria família, com o mendigo na calçada, o povo árabe, o povo judeu, minorias e maiorias (por que não?), presídios lotados, hospícios lotados, escolas esvaziando.

Eu tenho fome de cultura. Precisamos de coisas de mais qualidade na TV, mas também precisamos ficar menos tempo diante dela. Convenhamos. Ler é sempre uma ótima pedida e uma excelente alternativa. Qual foi a última vez que você foi ao teatro? Consegue lembrar de cabeça o nome dos dois últimos livros que leu para me recomendar? Não leu nada ainda este ano? Xiii... melhor rever conceitos, até porque você não vai querer que uma má intencionada mídia lhe diga, inclusive, o que pensar. Vai? Ficou na dúvida? Xiiii...

Eu tenho fome de espiritualidade. Gostaria de me dedicar um pouco mais para momentos de introspecção, recolhimento, meditação e prece. Gostaria de ser menos acomodado e menos hipócrita quando rezo (pelo menos admito a hipocrisia). Já faz tempo que não acredito que Deus é um velhinho de barba e cabelo branco. Muito tempo... Gostaria de encontrar com mais frequência o pouco de Deus que há em mim, e deixá-lo se manifestar com mais frequência e intensidade... Fome de fé...

Eu tenho fome de amor. Eu tenho fome de amor? Não, com certeza não. O amor DELA me sacia. Mas ao mesmo tempo que me sacia, me abre o apetite.

Que delícia de círculo vicioso, não?

(B.A.S.)

terça-feira, 22 de março de 2011

O tempo que se perde e o tempo que se ganha


Perco tempo eu, escrevendo essas linhas? Ganho tempo eu se alguém as ler? Do que adianta, se só de pensar nisto, já estou ganhando ou perdendo tempo?

Gosto de pensar na vida assim, sem essa história de tempo. Se pensarmos muito em tempo, começaremos a medir tudo em nossa vida. De tanto medir, não sobrará "tempo" para nada. Mas a verdade, é que precisamos. Não devemos amaldiçoar o inventor do primeiro relógio, de sol, esculpido na pedra. Devemos sim amaldiçoar aquele que inventou o relógio de pulso, que vira algema, no pulso de quem usa. É preciso saber conviver com ele, fazer dele seu amigo, andar ao seu lado. Nunca atrás, nunca na frente, sempre junto.

Junto com o tempo a idade. Invariável, implacável, devastadora. Os aniversários se sucedem. As alegrias da primeira infância, os modismos da adolescência, a reflexão da meia idade, o pânico na terceira, até a amnésia. Quantos anos tenho mesmo?

Dizem os mais velhos que há tempo para tudo na vida e que o certo é descobrir o momento exato de agir. Mas, falemos a verdade: e quem é que sabe? Ninguém ora... Só "perdendo" tempo é que se ganha experiência e se ganha "maturidade".

O problema de estar maduro e permanecer-se maduro, pois, se não, apodrecemos. E porque não dizer, nos esquecemos.

Do que eu estava falando mesmo? Que horas são?

(B.A.S.)

quarta-feira, 16 de março de 2011

O pouco de Deus que há em cada um


Certa vez um dos meus alunos me chama até sua carteira e diz o seguinte: "Professor, o * disse que não acredita em Deus. É muito burro ele né?". Calmamente, olho para o aluno que ele indicou e vejo no rosto dele um rostinho bem cético. Algo como um "E aí professor, me prova que ele existe".



Nessa turma a média de idade é entre 12 e 14 anos. Idade boa. Idade de contestação. Idade da consolidação da personalidade. Escola católica, valores a serem passados, ética cristã... Precisava pensar numa resposta que eu nunca precisei dar.



Olhei para ele e disse: "Meu amigo, se você pensar que Deus é um ancião, de cabelos brancos compridos, grande barba grisalha, túnica branca até os pés, semblante fechado, sentado em seu trono de ouro e de cajado na mão, decidindo o nosso destino e pronto para julgar o menor dos nossos erros, realmente fica difícil acreditar em Deus. Desse jeito, só crianças ou pessoas com pouquíssima instrução. Não é o seu caso.



"Pra início de conversa, Deus está acima de nossa compreensão. Tentar materializar a figura de Deus é uma necessidade humana. Uns o chamam de suprema consciência, suprema inteligência, energia, vibração, espírito superior, mestre ascencionado. Deus é tudo e nada disso.



Deus se revela entre nós numa atitude positiva que temos em relação ao próximo. Deus aparece entre nós quando anulamos nossas vontades diante das necessidades dos outros. Deus não mora no céu, Deus é o próprio céu. É a natureza inteira.



Deus se revela na nossa doença e na nossa alegria (mesmo que esqueçamos dele quando estamos felizes).



Deus é infinita misericórdia. Não tem tempo nem porque para nos julgar. Deus existe antes de alguém pensar em contar o tempo. Nada de tronos, cajados, coroas e reinos. Deus não é medieval".



Dito isso, meu aluno agradece e se diz convencido. "Deus existe agora pra mim". Não pude deixar de corrigí-lo. "Na verdade, ele sempre existiu, mesmo quando você não acreditava. Só que hoje Ele me pediu para te lembrar".



Não precisamos de mais texto sobre Deus, precisamos sim nos espiritualizar mais.

quarta-feira, 9 de março de 2011

O MENINO DO PIJAMA LISTRADO de John Boyne

País de origem: IRLANDA

Seria possível pensar em uma amizade verdadeira que nasce entre um alemão (de família onde o pai é importante comandante nazista) e um judeu nascido na Polônia, durante a segunda Guerra Mundial?
Não?
Mas é possível sim, se forem crianças.
Esta é a história de dois meninos que, sem entender os "jogos" estúpidos dos adultos, estabelecem uma bela amizade. Porém, ao arriscarem entrar um no mundo do outro, percebem que um mundo sem cor, pode se pintar de vermelho. Vermelho-sangue. (B.A.S.)

O MEU PÉ DE LARANJA LIMA de José Mauro de Vasconcelos


País de origem: BRASIL

Um menino endiabrado como tantos outros, por isso qualquer um de nós se reconhece nele, tem na sua pouca idade experiências de vida que marcam onde os olhos do corpo não veem. Mudança, rejeição, punição, amizade, amor, imaginação e morte passeiam pela cabeça de um menino. Impossível não se emocionar. (B.A.S.)

Dia Internacional da Mulher


Decidi, com um dia de atraso, escrever algo sobre o dia internacional da mulher. Dia 8 de março.
Pensei em ilustrar a crônica com alguma foto (de mulher, óbvio). Fui ao google e digitei a palavra "mulher" então, esperando alguma coisa etérea, fotinhas mimosas, imagens de mães, seres angelicais e coisas do gênero.
Não foi isso que eu encontrei nos primeiros resultados.
O que encontrei foi a Mulher-Samambaia, a Mulher-Melancia, capas da revista Playboy, poses sensuais de modelos desconhecidas. Será que para a sociedade de hoje, a mulher em seus valores mais essenciais acabou? E a Mulher-Mãe, e a Mulher-Universitária, a Mulher-Empresária, a Mulher-Presidente, as rainhas, cadê?
Sinceramente, fiquei chocado. Não, não estou sendo puritano, mas é triste constatar que no maior site de busca do mundo (não é culpa deles, mas sim de quem veicula informação na rede mundial de computadores), quando se digita "mulher" é justamente velhos preconceitos de uma sociedade machista e patriarcal são os que se fazem mais que presentes, atuantes.
Em meio a tantas poses sensuais de gosto duvidoso, encontrei esta foto acima. Decidi postá-la por um motivo muito simples: nada é mais forte e implacável que o tempo. Não existe cosmético nem cirurgia plástica que faça o milagre de pará-lo. Talvez, apenas disfarçá-lo, e muito mal. Mulheres, para quê a escravidão da beleza imposta pelo modismo?
Essa minha pesquisa mal-fadada no google revela exatamente isso: o que a sociedade de hoje espera das mulheres. Um cabelo de determinada maneira, um corpo que quando não doentio de tão magro é protuberante a ponto de nos remeter a um defeito físico.
Mulher, teu poder é imenso. O mundo é de vocês. Não deixem que uma minoria criada a base de dietas, escovas milagrosas, tratamentos estéticos e cirúrgicos quase semanais, academia compulsiva, celebridades instantâneas, ex-bbbs, lhes digam o que fazer, vestir, comer. Não deixem que elas lhes ensinem a viver.
Mulher, teu poder é imenso. Nem um superhomem pode com ele. Nem todos os homens podem com uma mulher determinada a algo. O carater subjetivo da mulher faz dela alguém não apenas imprevisível, mas alguém que conjuga coração e cérebro para tomar suas decisões. Que ser humano do sexo masculino não iria querer ser assim? Elas podem, nascem com isso.
Ok. Tudo bem. Feliz Dia Internacional da Mulher. Espero que no futuro, não precisemos mais de datas como essa. Num futuro onde entendamos que já que somos iguais entre os gêneros, ou fazemos o dia dos homens. Ou acabamos com o dia das mulheres.
Homens. Aprendamos a homenagear as mulheres todos os dias para nunca mais precisarmos de um 8 de março, para reconhecer o valor de quem merece.
(B.A.S. - 09/03/2011)

sábado, 5 de março de 2011

Uma conversa sobre gêneros na escola - crônica


Pensemos na seguinte situação. Num determinado momento, numa determinada escola, um grupo de 20 travestis homossexuais masculinos fazem matrícula para estudar em turmas de Ensino Médio. Até aí, tirando algum tipo de preconceito que você já esteja criando em sua cabeça neste momento, nada de anormal. Mas um problema logo de cara se estabelece: que banheiro eles devem usar? Masculino ou feminino?

"Masculino, é claro, porque eles são HOMENS", você dirá. Mas não é tão simples assim. se o problema fosse só a anatomia, já estaria mais que resolvido, mas esse assunto exige um pouco mais de cuidado. Não são homens comuns, por isso mesmo não devem usar banheiros comuns de homens.

Vivemos e ainda teremos que viver, por um longo tempo, dentro de uma sociedade patriarcal e machista. Graças a Deus e ao desenvolvimento intelectual do ser humano, gradativamente isso tem mudado. O capitalismo mudou a estrutura de família e, com isso, os valores da sociedade e a estrutura desse primeiro núcleo social que temos contato: a nossa família.

A família não foi destruída por falta de valores. A família teve que se reinventar. Uma pessoa só não pode mais sustentar um grupo de 4, 5 ou mais pessoas. É preciso uma renda de 5 ou mais salários mínimos para tal proeza (e quantos ganham isso no Brasil?). Não sei, queria, mas não sei. Saber e o salário...

Não sou gay. Nem militante de causas a favor dos homossexuais. Vivo entre gays porque sou um ser social. Vivo em sociedade. Amigos gays, colegas de trabalho gays, alunos gays... Estão em toda parte, desde que o mundo é mundo. Não milito porque não há necessidade. Sei lidar com a diferença porque sempre entendo o mundo como um celeiro de diferenças. Só quem quer ser igual é que não enxerga. Preconceito e moda cegam.

Coloquemos os travestis junto com as meninas nos banheiros. Não há problema. Problema haveria se fossem colocados com os meninos (lembra do papo da sociedade machista, moralista... então). Meninas heterossexuais teriam curiosidade no início, creio eu. Nada mais natural. Mas ninguém oferece "risco" a ninguém. Não há atração física por razões óbvias: eles gostam de HOMENS.

Construir banheiro para eles? Isso é segregação. Isso é preconceito em sua forma mais clássica. Hoje teremos o banheiro para eles. Depois, pelos mesmos motivos, uma fileira de carteiras em sala, para eles. Amanhã, um horário de recreio só para eles.

Precisa falar o que vai acontecer depois?

Saibam conviver com as diferenças. O mundo de hoje mais do que precisa, exige isso de você.

(BAS - 05/03/2011)