ALGARAVIAS de Waly Salomão

ALGARAVIAS de Waly Salomão
ALGARAVIAS de Waly Salomão

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

NOÇÕES DE COISAS de Darcy Ribeiro

País de origem: BRASIL

Em uma mistura inusitada de Ziraldo e Darcy Ribeiro, este "livro meio enciclopédia" de criança perguntadora, chama a atenção para assuntos sérios e para outros não tão sérios assim. Noções de coisas é um livro para curiosos, que sentem uma coceirinha no cérebro diante de uma coisa que ainda não conhecem ou entendem (ou acham que entendem). (B.A.S.)

O QUE MUDA COM O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO de Evanildo Bechara

País de origem: BRASIL

O controverso professor Evanildo Bechara, neste livro, pretende explicar sem muita complicação (se é que isto pode ser possível), o novo acordo ortográfico da língua portuguesa. A leitura deste manual vale por dois bons motivos: o primeiro é que, gostem ou não, Evanildo Bechara é o maior gramático da língua portuguesa vivo, o que faz dele uma referência no assunto; o segundo é que o acordo já está em vigor e é preciso criar intimidade com ele o quanto antes (com acordo, não com o professor Bechara). (B.A.S.)

NOITE NA TAVERNA de Álvares de Azevedo

País de origem: BRASIL

Assassinatos, incesto, antropofagia, adultério, duelos, sexo e necrofilia são alguns dos muitos pontos extravagantes deste livro. Ambientado em uma taverna (bar), alguns conhecidos resolver contar suas experiências mais marcantes. Cada um assume a voz do narrador, em capítulos separados, para a sua história. Herdeiro notável do byronismo no Brasil, Álvares de Azevedo mostra nesse livro, porque é o autor mais importante do ultrarromantismo brasileiro. O que tinha tudo para ser um livro de contos por conta da sua divisão de capítulos, mostra-se um intrigante romance com um desfecho surpreendente, revelado apenas em seu último capítulo. (B.A.S.)

A HORA DA ESTRELA de Clarice Lispector

País de origem: BRASIL

Macabéa é um ser inacabado de vida inacabada, que acaba nem tendo motivos para começar. A sagacidade literária de Clarice faz com que nos deparemos, neste livro, com um conflito do personagem do "escritor", que também narra a história, com a sua obra (na qual Macabéa é a personagem). Personagem único na literatura brasileira, sua tragetória nos faz pensar em nossas mazelas. Pensar em defeitos nossos, cotidianos, que Clarice os torna enormes. Impossível conhecer Macabéa e não pensar na nossa própria miséria humana. Riremos do feio e do grotesco e depois sentiremos vergonha, por conta de nos reconhecermos nela (tão parecida conosco). (B.A.S.)

O CAÇADOR DE PIPAS de Khaled Hosseini

País de origem: AFEGANISTÃO

Juro que por algum tempo, olhei este livro com olhos preconceituosos. Já que “toda unanimidade é burra”, nunca consegui ver os best-sellers com bons olhos e este é um livro campeão entre eles. Olhei com mais preconceito ainda quando ele rapidamente foi adaptado para o cinema e tinha o Afeganistão como pano de fundo. Mais um livro afetado por questões étnicas, políticas e religiosas (Será que já havia esta intensão no autor?). Não importa. O livro de Khaled Hosseini é primoroso e não tem nada de afetado. Este é um livro sobre a amizade, a honra e o orgulho. Personagens fantásticos como Amir e Hassan nos jogam na cara verdades veladas, hipocrisia do mundo adulto e desmascaramento da fantasia. O Afeganistão pré e pós Talibã é o pano de fundo, o que em nada torna afetado ou ideologicamente conduzido este romance afegão. Leiam o quanto antes este livro de verdades que muitos adultos esquecem. “É sempre tempo de se conseguir o perdão”? (B.A.S.)

CRIME FEITO EM CASA. Vários autores. Organização de Flávio Moreira da Costa

País de origem: BRASIL

Antologia de contos policiais e/ou de suspense (gênero tão menosprezado pela academia e pela crítica especializada). O livro proporciona algumas gratas surpresas com histórias de alguns autores consagrados (Machado, Lima Barreto, João do Rio, Dalton Trevisan, Pagu) e outras feitas pela nova geração. Talvez, pela pouca tradição brasileira neste gênero, você se depare durante a leitura da antologia, com história horríveis (sem trocadilho). Mas a maior parte salva. (B.A.S.)

O FIO DAS MISSANGAS de Mia Couto

País de origem: MOÇAMBIQUE

Pode-se dizer, congratulando, que é um Guimaraes Rosa africano. Recria a linguagem, brinca. Mostra intimidade absoluta. Livro de contos repleto de figuras de linguagem, inversões, duplo sentido. Tinha tudo para se transformar numa extravagante experiência estético-verbal, mas não. Mia Couto supera qualquer clichê. Sua prosa se desenvolve de maneira viva, nas entranhas de quem lê. Quase sempre a mulher toma o protagonismo da história para si, e Mia parece caminhar por esse universo feminino com muita propriedade (Mia Couto é homem). Mulher-mãe, mulher-esposa, mulher-filha, mulher-amante, mulher-anciã, mulher-macho. Nunca inocente e frágil, simplesmente. Aliás, neste livro, entendemos que o simples é um pouquinho mais complicado do que parece. (B.A.S.)

O PROFESSOR REFÉM de Tania Zagury

País de origem: BRASIL

Se você for pai/mãe de aluno(a), tem que ler este livro para entender que o fracasso ou o sucesso de seu filho é algo que não tem apenas um responsável. A responsabilidade é de todos envolvidos no processo. Se você for aluno, não importa o seguimento, precisa ler este livro para entender que a sua responsabilidade, às vezes, é a maior entre todos os envolvidos (pais, professores e alunos). Se você for professor encontrará neste livro várias respostas para suas inquietações, não eximindo-o de sua parcela de responsabilidade. O melhor livro já escrito até hoje sobre o porquê do fracasso na educação brasileira. (B.A.S.)

A VACA E O HIPOGRIFO de Mario Quintana

País de origem: BRASIL

Poeta do simples, refinadamente simples. Poeta objetivo, complexamente direto. Poeta corriqueiro, poeticamente vulgar. Mario Quintana, neste livro, reúne diversos gêneros textuais, despretenciosamente: crônicas, poesias, contos, pensamentos, silogismos, quase-provérbios, conselhos, impressões... Nos fazendo olhar pelos olhos do poeta. Nos dizendo que também é possível ler e fazer versos. Mas não é tão simples assim. Quintana, na sua clareza e objetividade poética nos faz entender que o simples, por vezes, já é bastante complicado por si só. Porém, seu objetivo, certamente, era não complicar. Leia e só. Até mesmo porque: "Mas, afinal, para que interpretar um poema? Um poema já é uma interpretação. - MQ" (B.A.S.)

O DIÁRIO DE ANNE FRANK de Anne Frank

País de origem: ALEMANHA

Adolescente judia decide escrever um diário enquanto ela e sua família, mais a família van Daan (todos judeus) se escondem da SS de Hitler num anexo de uma fábrica de temperos na Holanda, durante a Segunda Guerra Mundial. Sinopse de um livro ficcional sobre o holocausto? Não. Os personagens descritos neste livro são todos reais e os fatos todos verídicos. Anne Frank tem seu diário íntimo publicado por seu pai, Otto H. Frank, alguns anos após o término da guerra. Durante a leitura do livro temos a impressão que se trata de um romance e que não passa de uma ficção baseada em fatos reais. Essa impressão talvez aconteça por conta da prosa irretocável utilizada por sua autora. Anne, chama seu diário carinhosamente de Kitty, humanizando-o, e mantém um diálogo (se é que podemos dizer isto) onde desabafa todas as suas espectativas, esperanças, revoltas, frustrações, revoltas, desejos e paixões. De comportamento solitário, como a maioria dos adolescentes, Anne entende seu diário como uma amiga-confessora, já que julgava ser incompreendida por seus pais e por quase todos os adultos. Seus exercícios de auto-crítica e reflexões sobre o holocausto judeu promovido pelos alemães, nos proporciona lindas imagens e cenas emocionantes. Por conta de sua esperança de menina, honestidade e alegria, é uma pena que ela não tenha sobrevivido a todo esse horror. E ela mesmo tivesse continuado a ver com seus olhos poéticos, um mundo tão cinza, mas manchado de vermelho, e continuasse a nos contar. (B.A.S.)

ANTOLOGIA POÉTICA de Cecília Meireles

País de origem: BRASIL

Um livro de poesia é sempre um convite à introspecção, auto-conhecimento, deslumbramento com o simples, percepção do invisível. Mas quando a poetiza é Cecília Meireles, todas essas percepções e muitas outras se adensam, multicolorem-se, contagiam. Meiga sem ser melosa, solitária sem ser decadente, apaixonada sem ser tola. (B.A.S.)

O PIANO E A ORQUESTRA de Carlos Heitor Cony

País de origem: BRASIL

Caso você esteja acostumado com o Cony articulista do jornal "O Globo" ou com o meigo e poético cronista da contemporaneidade, você vai se surpreender com este livro. É outro autor. Neste romance de Cony tudo roda. A narrativa, a vida das personagens, as sequências, as situações, a roda-gigante. Somos surpreendidos por uma história empolgante e hilariante onde são contadas as histórias do anti-herói (talvez o anti-Cristo) Francisco de Assis Rodano (até seu nome roda), o próprio diabo encarnado, nascido no interior do Estado do RJ, ao longo dos trilhos da Estrada de Ferro da Central do Brasil. Beira o fantástico sendo realista, é quase fábula, é impagável, é imperdível. (B.A.S.)

OS PASSOS EM VOLTA de Herberto Helder

País de origem: PORTUGAL

Autor de prosa-poética intensa, que escreve quase que na velocidade do pensamento. Nos deparamos com seu universo mental com uma intimidade desconcertante. Textos primorosos para histórias banais em situações banais. Papo de bêbado que tem um nível cultural mais elevado. Filosofia de boteco embasada. Imperdível. Leia para ontem. Leitura para iniciados. (B.A.S.)

ORGIAS de Luis Fernando Veríssimo

País de origem: BRASIL

O melhor do conto do impagável e hilariante Veríssimo sobre a temática das festas, confraternizações, sexo e outros bichos. Não há o que comentar, leia tudo o que você vir deste homem. Imperdível. (B.A.S.)

ESTE ADMIRÁVEL MUNDO NOVO de Ruth Rocha

País de origem: BRASIL

Este livro infanto-juvenil trata de maneira brilhante, sem menosprezar seus leitores, de assuntos bastante relevantes. Relato surpreendente de um extra-terrestre durante uma visita ao planeta Terra. Em linguagem muito simples aborda-se assuntos por demasiado importantes. Superlotação das grandes cidades, como o outro nos vê, o que estamos fazendo com a educação de nossas crianças. Esse mundo é nosso, quer você queira ou não. Não se esqueça que ele é seu, você faz parte dele e deve assumir suas responsabilidades. Não existe faixa etária para ser leitor de Ruth Rocha. (B.A.S.)

LISÍSTRATA - A GREVE DO SEXO de Aristófanes

País de origem: GRÉCIA

Mulheres casadas, cansadas de ver seu país em constantes guerras e seus maridos metidos nelas (nas guerras) resolvem, lideradas por Lisístrata, fazer greve de sexo. Tal atitude desencadeia nos homens: desespero, insatisfação, irritação e, curiosamente, uma ereção coletiva por toda a Grécia. Texto engraçadíssimo com situações mais que inusitadas é garantia de boas risadas do início ao fim. A tradução de Millôr, mestre do humor brasileiro, só melhora o que já era bom demais. Agora, atentem para o ano da obra: 441 antes de Cristo! Para quem acha que o mundo anda perdido por causa da libertinagem, muita calma. Isso vem de muito tempo... E nem é tão ruim assim... (B.A.S.)

A ÁGUIA E A GALINHA de Leonardo Boff

País de origem: BRASIL

Primoroso livro do teólogo Leonardo Boff, onde se consegue falar de religião sem catequizar ninguém, porque se fala de religiosidade. Mais que uma metáfora da condição humana usando arquétipos da águia e da galinha, Boff fala de atitudes, referências, escolhas, liderança e esperança. (B.A.S.)

A ESCURIDÃO E O MEL de Giovanni Arpino

País de origem: ITÁLIA

Talentoso escritor do realismo italiano, Arpino nos delicia com o instigante personagem Fausto G. Após um acidente ocorrido durante a guerra, Fausto fica cego e um pouco deformado. Decide, então, morrer em vida. A única maneira de demonstrar para os outros que ainda podia ser alguém interessante e de afasta-las é as tratando de maneira rude, estúpida e seca. Porém suas atitudes tem ação contrária do que se deseja. Será intencional ou não da parte do Capitão Fausto G.? (B.A.S.)

AS MENTIRAS QUE OS HOMENS CONTAM de Luis Fernando Veríssimo

País de origem: BRASIL

Mais um livro deste Gênio da literatura brasileira contemporânea. Com o seu humor impagável, Veríssimo nos proporciona boas risadas com o melhor das mentiras do universo masculino. P.S.: Mentiras femininas também se fazem presentes. E lembrem-se: sempre atrás de um grande mentiroso, existe, também, uma grande mentirosa. (hehehe) (B.A.S.)

CV PCC - A IRMANDADE DO CRIME de Carlos Amorim

País de origem: BRASIL

Pela primeira vez, alguém escreve algo sério sobre o crime organizado no Brasil. Suas origens, motivações, seus agentes e todas as mentiras e verdades colocadas sob um manto de hipocrisia. Se você acha que o tráfico de drogas se resume ao que você assiste nos telejornais de canal aberto ou no que os secretários de segurança divulgam, saia do "Fantástico Mundo de Bob" e descubra a verdade sobre o crime organizado, armas e drogas. Congratulações para Carlos Amorim pelo excelente trabalho de pesquisa e pela coragem de falar a verdade em um lugar (Brasil) onde todos preferem uma mentira bem contada, para curtir seu baseado em paz. (B.A.S.)

AS CARIOCAS de Sérgio Porto

País de origem: BRASIL

Profundo conhecedor da alma e da mulher carioca, Sérgio Porto narra em seus contos as desventuras de personagens inesquecíveis tanto para a literatura quanto para o imaginário masculino cheio de libido - A Grã-fina de Copacabana, A Noiva do Catete, A Donzela da Televisão, A Currada de Madureira, A Desquitada da Tijuca e A Desinibida do Grajaú - mulheres que encantam, mas também revelam um profundo machismo dos homens e preconceitos de uma sociedade pseudo-conservadora de classe média carioca. Imperdível. (B.A.S.)

O CLUBE DOS ANJOS - GULA de Luis Fernando Veríssimo

País de origem: BRASIL

Em uma receita de ingredientes inusitados como um picadinho de carne, um grupo de amigos, uma bela mulher, um estranho talentoso de forno e fogão, segredos, assassinatos em série e alta gastronomia, o livro de Veríssimo se torna o delicioso prato principal. Aprecie com fome literária e boa digestão, digo, boa diversão. (B.A.S.)

A VIAGEM DE THÉO de Catherine Clement

País de origem: FRANÇA

Este livro extrapola seu subtítulo "Romance das Religiões". É muito mais que isto. Théo, garoto estudioso e curioso, levava uma vida tranquila, em meio a muitos livros, família e amigos. Religião é o seu tema favorito de estudo. Um belo dia, sua família descobre que ele sofre de uma doença grave, de difícil cura. Sua tia Marthe propõe um "tratamento alternativo": um volta ao mundo das religiões. Viajaram pelo planeta desvendando todos os mistérios, ritos, deuses, mitos e rituais. Esperava ela , assim, lhe dar um novo alento. Théo e sua curiosidade nos apresenta o mundo a partir do divino, sem preconceitos. Nesta viagem, Théo, além de saciar sua curiosidade, encontra respostas, amor e a cura. Milagre? Leia e descubra. É um livro de amor pela vida. (B.A.S)

O CONTO DA ILHA DESCONHECIDA de José Saramago

País de origem: PORTUGAL

Existe uma máxima que diz: "todo homem é uma ilha". Em um reino distante, que poderia ser em qualquer lugar ou tempo, um homem comunica seu desejo ao Rei: "Quero um barco"! Seria um sonho louco ir atrás de uma ilha que não existe? Um livro que nos faz pensar que o isolamento não é o último refúgio. Ou quase. (B.A.S.)

Artista

Existem pessoas que me chamam de desocupado.
Por saber viver.
Por trabalhar na realização de um sonho, até que consiga tê-lo para mim.
Por gostar de coisas não convencionais.

Existem pessoas que me chamam de deslumbrado.
Por fazer o que eu gosto.
Por estar sempre feliz.
Por querer o bem, de quem me quer mal.

Existem pessoas que me chamam de irresponsável.
Por viver o hoje, sem me preocupar com o amanhã.
Por querer guardar aplausos, ao invés de dinheiro.
Por amar sem medida.

Existem pessoas que me chamam de criança.
Por me divertir com muito pouco.
Por me fascinar no ouro, não o valor, mas o brilho.
Por estar sempre brincando com a vida.

Existem pessoas que me chamam de vagabundo.
Por me maravilhar com as ruas.
Por gostar de andar pelo mundo, viajando.
Por não estar adequando a uma sociedade vigente.

Existem pessoas que me chamam de dissimulado.
Por ter o poder de ser várias pessoas, em uma.
Por ter ideologias diferentes, em um único pensamento.
Por ter a imaginação como meio de transporte.

Existem pessoas que me chamam de assexuado.
Por entender a alma da mulher e do homem.
Por ter gestos, que na concepção "deles", são afeminados ou masculinizados.
Por amar dos dois jeitos os dois sexos.

Existem pessoas que me chamam de estúpido.
Por chorar de alegria e de tristeza.
Por cantar e dançar, sem motivo aparente.
Por manter sempre um sorriso no rosto.

Existem pessoas que batem palmas para mim.
Por trazer alegrias para suas vidas.
Por trabalhar com o que amo e fazê-lo bem feito.
Por ser eu mesmo.
Por ser artista.

(B.A.S. 13/08/2001)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Se fosse apenas

Se a vida fosse apenas sonhar:

Seria esperançoso,
Simples, maravilhoso.
Nunca dispendioso.
Belo e formoso.

Se a vida fosse apenas acordar:

Despertaria em um lugar bonito.
Retirava do peito todo o grito.
De andar, faria um agito
E da primavera um eterno estio.

Se a vida fosse apenas adormecer:

Procuraria a eterna paz,
Um acalanto que me satisfaz,
E um leito para em que jaz
Adormecesse sem olhar para trás.

Se a vida fosse apenas amar:

Sonharia como outrora.
Acordaria, mesmo agora
e adormeceria na mesma hora,
Para provar que amor, é de dentro para fora.

(B.A.S. 10/08/2001)

SÁVIO, O SABIÁ

Sávio era um pássaro como outro qualquer. Sávio já estava bem grande. O que proporciona um certo aperto no ninho onde nascera. Sávio morava com os pais num galho formoso e repleto de folhagens de uma amendoeira. O ninho foi confortavelmente construído em uma delicada bifurcação deste galho.

Deixando de lado agora a moradia, falemos do dilema de Sávio. Sávio era uma sabiá quase adulto. Um belo exemplar de sabiá-laranjeira. Um imponente peito alaranjado era seu motivo de maior orgulho. E graças a essa imponência e crescimento precoce, Sávio precisava de uma casa só sua.

Despediu-se dos pais e alçou vôo sobre o capoeirão. Sávio planava, planava, planava, e nada de encontrar um galho tão formoso quanto o da sua família. Decidiu parar para descansar no galho de uma mangueira.

Ao pousar, percebe a presença de outro pássaro. Percebe que o outro pássaro tem um pouco de palha no bico. Percebe que o outro pássaro é uma fêmea...

O que Savio não percebe, é que tinha encontrado o amor.
Sua nova família
e sua casa no início da construção...

(B.A.S. 19/02/2002)

SÁBIO SABIÁ

Soube que saberia
O que era o saber.
Sabia?
Não?!
Eu sabia que não saberias.
O que sei, era que você
Talvez o soubesse.
Mas não sabes
Não é?

Eu sei que sou além.
Agora, do que, é que eu não sei.
Também, quem saberá?
Ser o que sou e
Saber o que sei.

E o sabiá?
Que não sabe nada disso.
Não sabe nada sobre o saber.
Mas sabe cantar!
E como canta bonito...

(B.A.S.) 09/12/2001

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

QUANDO SABEMOS QUE É BOM

Sei quando é bom quando é inusitado. Sempre gostei que as minhas coisas fossem assim. Nunca planejo e as coisas acontecem. O gosto é sempre melhor. É um gosto de medo que nasce e morre na boca, na ansiedade de um beijo. Espectativa é sempre estimulante.

Quero histórias de amor que não podem ser contadas de um jeito comum, justamente por serem incomuns. O ato de amar é uma atitude poética por excelência, sempre fora do comum. E assim deve ser, sempre. Dias cinzas se colorem porque só sabem ser assim, coloridos. Rotina endurece ânimos, descolore visões. Preciso de dias mais coloridos, enquanto houver vida para mim. Isso me manterá vivo, isso me manterá feliz.

O problema está sempre nos olhos de quem vê as coisas. É uma questão de ponto de vista, pessimista, é claro. Somos aquilo o que pensamos ser e não adianta nos convencer do contrário. Para que possamos, então, melhorar o que somos, faz-se necessário valorizar o que temos de bom, e dividir com quem a gente gosta.

A isso dá-se o nome de amor
Ou poesia.
(B.A.S.)

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Belos olhos

Numa madrugada
Belos olhos me guiam.
Me guiam ou me dragam?

Desperta-se o sono, pois
Belos olhos me guiam
Pela escuridão da noite.
Da noite ou da vida?

Não há medo.
Como faróis eles mostram
O que não se vê com olhos comuns
Só com belos olhos.

Estimula-se o desejo.
Vê-se o desejo.
Belos olhos agora,
se tornam alvo.

Desejo como arma.
Belos olhos de desejo,
de fazer olhos comuns,
espelho para belos olhos.

Impossível parar de mirar
Impossível não querer ser alvo
Impossível não querer dormir
Na vigilância de belos olhos.

Como os seus. (B.A.S.)

Como faz falta

Tem dias em que acordo
Com angústia para encontrar algo.
Algo que me motive, anime...
... ou coisa do tipo.

Sinto vontade de rezar...
Para que eu encontre uma suposta paz.
Resposta para as inquietações da alma.
Alienção gratuita e egoísta
Sem encontrar ou incomodar alguém.
Só a mim mesmo,
Pois não encontro nada.

Sinto vontade de fumar...
Talvez me abra o apetite
Ou ainda, talvez, seja um convite.
Para algo nebuloso...
Tão denso quanto a fumaça
Do próprio cigarro.
Apago o cigarro na pia do banheiro...

Sinto vontade de chorar...
Na esperança que alguém se importe.
Que para mim haja pelo menos
Uma consorte
Ou com pelo menos mais sorte,
Do que eu a esperar a própria morte.

(B.A.S. 15/04/2002)

Ela é rica

Eu sou pobre
Ela é rica

Pobre de talentos
Rica de gracejos

Eu sou pobre
Ela é rica

Pobre de boas intensões
Rica de percepções

Eu sou pobre
Ela é rica

Pobre no espírito
Rica no capricho

Eu sou pobre
Ela é rica

Pobre de nascença
Rica na diferença

Eu sou rico
Ela é pobre

Rico em interrogações
Pobre em definições.

(B.A.S. 26/01/2010)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Ver o Verso Vero Verso

Vi que no verso
seu versejo era algo de se ver
Ver assim como quem lê
Imagem verídica

O poema expôe
Ferida aberta
Desejo estranho
Pão sobre a mesa

Coisas para se ver
Verso para ler
Respeito para ser ter
Por arte tão maldita

Viver entre versos
Caminhos entre as linhas
Ver o inverso
De um rio chamado vida. (B.A.S.)