Depois de perder alguém que gostamos muito, sempre pensamos na falta que ela traz consigo. A saudade é aquela visita que recebemos, onde mesmo sabendo que vai incomodar, temos que abrir a porta para ela entrar, pois ela é importante. Necessária.
Várias pessoas morrem. Todos os dias, de todos os jeitos. A dor do outro não nos afeta, mesmo que seja um vizinho de muro, ou de porta. Mas morra um parente, um amigo, um professor querido, um colega de trabalho de muitos anos. É ferro quente atravessando o coração. É sem anestesia.
Tudo fica para trás e no mesmo lugar: o armário com as roupas, as contas, o lugar na mesa para o almoço ou jantar, a festa de aniversário que não mais se comemora. Um existência real e física a menos. Uma dor a mais para os que ficam.
Perdemos eu e minha mulher, a menos de um mês, duas pessoas incríveis: meu tio Willian e a Bisa Salet.
Meu Tio, homem falante, bonachão, festeiro. Daquelas pessoas que não sabem dizer não a um pedido honesto. Um exemplo de caráter, um exemplo de homem, para mim, meu irmãos e meus primos. Morre um bom médico, um pai dedicado, um botafoguense fanático (algum defeito tinha que ter, hehe). Fica um espaço enorme que nunca vai ser preenchido, fica o exemplo e o espaço, a saudade. E com o tempo, o pó. Poeira e traça nas roupas, documentos sem validade, fotos que amarelam. Faz falta tio... Você.
E a Bisa. Com 86 anos que ninguém lhe dava, vivia muito bem obrigado. Vencedora de um câncer. Vencedora de concursos de beleza. Viajante experimentada: Egito, Paris, Espanha, Estados Unidos, Argentina e outros. Dirigia bem, organizava bazares, morava sozinha, participava, recebia bem em sua casa. Sempre sorrindo, sempre espirituosa. Vá em paz bela mulher. Belo exemplo de vida bem vivida.
E o pó sobre as coisas. E nós virando pó, com o tempo.
Vivamos então, como se o fim fosse a invenção de alguém nada espirituoso.
(B.A.S. - 21/04/2011)
