ALGARAVIAS de Waly Salomão

ALGARAVIAS de Waly Salomão
ALGARAVIAS de Waly Salomão

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Idas e Vindas

Como consigo dormir
sabendo que há tantos com fome?
Isso não importa,
nem sei o nome.
Tanta coisa não importa
desde que não seja comigo.

Severino vai e volta
sem rumo, sem destino
sem condições melhores
volta à casa.
Come farinha de mandioca e água
quando tem.
Se não tem
ignora
a fome.

Foi procurar uma vida melhor
e à sua frente
encontrou portas fechadas,
corações trancados,
e muitos sem se importar.

Sem esperanças,
mãos abanando,
estômago roncando
e como se já não estivesse acostumado,
bolsos vazios e crianças chorando.

ISABELLE GAMBERONI (Minha aluna do 8º ano do Colégio Padre Corrêa)

domingo, 1 de agosto de 2010

ENQUANTO A NOITE NÃO CHEGA de Josué Guimarães


País de origem: BRASIL

 Romance gaúcho que conta a história de um casal de idosos (com idade bastante avançada) em suas memórias, que é o que lhes resta. Sem exageros. Filhos mortos, sonhos despedaçados, pobreza e fome como companhia. A única visita que recebem é a do coveiro da cidade, de sorte muito parecida com a deles. Últimos habitantes de uma pequena cidade do interior, esperam, esperam... mas nada falam. O coveiro terá um último trabalho e a derradeira visita chegará, certa como a noite sempre se anuncia. (B.S.)

segunda-feira, 26 de julho de 2010

ASSASSINATOS NA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS de Jô Soares


País de origem: BRASIL

Gosta de aventuras de detetives, recheadas de suspense e mistério? Gosta de histórias bem humoradas? Gosta de detalhes curiosos de nossa história recente, salpicados com um pouco de ficção competente? Pois então encontrou tudo isso e muito mais neste livro do já consagrado humorista e apresentador Jô Soares. Seu talento artístico sempre foi inegável. Mas na literatura, Jô, usa de sua cultura e erudição, sem ser pedante, e nos dá um banho de informações interessantes. Fora o seu humor, que transita do refinado à galhofa. Diversão e cultura garantida. (B.S.)

ARTE E CIÊNCIA DE ROUBAR GALINHA de João Ubaldo Ribeiro


País de origem: BRASIL

Coletânea de crônicas do mais despretencioso e talentoso dos imortais, (por isso mesmo ele se torna tão "mortal" como nós - daí a identificação fácil), onde o plano de fundo é sempre a ilha de Itaparica, que ganha ares surreais dada a excentricidade de seus habitantes e a grandiloquência bem humorada de suas histórias. Personagens hilários como Cuiúba, seu David, Zé de Honorina, Zé de Neco, bem como o próprio João Ubaldo, tornam a prosa de J.U.R., que já é ótima, maravilhosa. (B.S.)

Enquanto dormes

É tão bonita enquanto dormes...
Encolhe-se como um bebê .

Protege a cabeça com a manta,
provavelmente de maus sonhos.

Respira frouxo e baixo.
Ressona como se ronronasse.

Um sorriso neutro nos lábios,
boca que espera o beijo.

Corpo que aguarda despertar
Ou ser despertado,

Por outra boca
Enquanto dormes...

(B.A.S. - 16/07/2010)

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Reflexo

Deus
Desuso
Displicente
Doente
Dislexo
Discrepante
Distúrbio
Disco voador
Débil
Dormente
Dúbio
Dantesco

És a minha
Imagem e semelhança.
Ainda?...

(B.A.S. – 14/12/2002)

V

Vou viver valendo vil ou
Valentemente com vontade.
Voltando e visando, vultos e
Vales, vivificando o valor.
Visível é o vestígio
Você verá...

(B.A.S. – 14/11/2002)

Mudança

Me corre um desespero e espero,
Esperar a esperança da mudança.
De hábitos, de conceitos, do jeito.
Mudar para se viver, sorver
E entender a vida
Ou simplesmente o mais complexo: amor.

Amor-sal, amor-cor e não amor-dor.
Esse não existe,
Mas resiste na dúvida.

(B.A.S. – 23/09/2003)

Dia sem sol

Hoje o dia nasceu sem sol.
As flores reclamaram sua força.
Os leões, sua preguiça.
O homem, sua esperança.

Hoje o dia nasceu sem sol.
E por tristeza, a Lua nem apareceu.
As estrelas, nem ousaram
E o planeta adormeceu triste.

Hoje o dia nasceu sem sol
Hoje o dia nasceu sem...
Hoje o dia nasceu?

(B.A.S. – 19/12/2002)

Como tu

Tal como o mais maravilhoso meio de transporte
Assim são os sonhos.

Tal como o mais inevitável risco de morte
Assim é a vida.

Tal como o mais inalcançável objeto de desejo
Assim são as metas.

Tal como o mais improvável acontecimento
Assim é a surpresa.

Tal como a mais implacável consciência
Assim é a morte.

Tal como o mais incontrolável desespero
Assim é a dor.

Tal como eu posso ser
Assim é você.

Tal como você pensa ser
Me diga: quem sou?

Metas de sonhos para uma vida
Na consciente surpresa de dor e morte.
Assim como tu...

(B.A.S. – 19/10/2004)

Café

Paro e penso
Na borra de café no fundo da xícara
- Café forte!
Amargo de fazer lembrar tristezas.

Melancólico pela louça lascada.
E para onde foi tal pedaço?
Talvez não gostasse de ser amargo
E petulante se rompeu...

Como lembranças tristes.
Pires manchados de outras bocas,
Batons, outras bebidas, azul-paris.
E apenas uma asa não faz voar.

Perigosa é a história
No relato mudo da lembrança.
Outras borras, outras línguas.
Saliva, colheres, insônia.

Café. Insônia homeopática
Que de apática, deixa a língua
Com o amargor do tempo.
Made in China, 1989.

E concluindo o pensamento
Da idéia que está a amargar,
Mais água ao “passá-lo”
Evitaria a reflexão
Que este preto faz evocar.

(B.A.S. – 19/10/2004)

Cadê

Paro em meio ao caos
Com o olhar desorientado.
E de maneira desajeitada
Peço ao tempo
Para ir em meu lugar.
Que eu já nem sei onde fica...

(B.A.S. - 2003)

Branco

Papel em branco
É angústia para idéias
Que estão à beira da realidade.

Roupa branca
Prepara a cerimônia séria
Daqueles corpos que buscam espiritualidade.

Cerca branca
São mais que eternas férias
Esperança de tranqüila e progressiva senilidade.

Passar em branco
É coisa complicada deverasÉ briga eterna do remorso com a responsabilidade

(B.A.S. – 19/10/2004)

Ânsia

O ar que falta
Que solto
Que imploro...

Respirar é mais que uma necessidade.
A única verdade
Que agora arde.

Como outrora...
E tanto faz:
De dentro para fora,
Ontem ou agora,
Sem porto ou cais.

(B.A.S. - 08/2003)

Amor Real

Espere agora
Pelo seu único momento,
Por um momento...

(B.A.S. - 2002)
Suave sentimento sentimental
Sublime sensação sensual
Sofrível, sorrateiro, sucinto.
Sagrado...
Somente o amor.

(B.A.S. – 19/11/2002)

TUDO QUE VOCÊ NÃO SOUBE de Fernanda Young


País de origem: BRASIL

Mulher de meia-idade decide escrever um livro de memórias em homenagem a seu pai, que está à beira da morte muito doente. Parece que você já viu essa história, não é mesmo? Mas eu garanto: essa personagem não tem nada de superficial e a sua criadora, F.Y., não tem nada de previsível. Tentativas de homicídio dentro da família, condenações e prisões, descoberta da sexualidade, sinestesias, achismos, preconceitos e traumas da classe média, má educação ou educação errada, paranóias, medos, críticas, cultura e quebra de paradigmas. Ou seja, não há lugar para a superficialidade. Os talentos de roteirista de TV de programas globais consagrados se revela em uma romancista promissora e perspicaz. Aproveite bem esta leitura de Fernanda Young, no que, aparentemente, é mais uma de suas especialidades. (B.S.)

O PLANALTO E A ESTEPE de Pepetela


País de origem: ANGOLA

História do nascimento, morte e ressurreição de um amor entre jovens de culturas extremamente diferentes. Sarangerel, natural da Mongólia, e Julio, natural de Angola, encontram-se na Moscou da década de 1960. Ambos, na condição de estudantes, ambicionam um mundo melhor, sob a óptica socialistra, e vão para a capital russa à procura de instrução e orientações para, então, multiplicarem o que aprenderam em seus países. Apesar dos ideais dos dois serem os mesmos, basta com que se apaixonem para que as suas diferenças culturais se acentuem. E com essa "ajudinha" do Partido, ambos se separam. pepetela, além de escrever sobre uma história de amorque não tem nada de tola e superficial, revela em seu texto toda a fragilidade e o preconceito instalado nas nações socialistas deste período. História com final feliz, mesmo se ndo (julgue você mesmo) tarde demais. (B.S.)

O IMAGINÁRIO COTIDIANO de Moacyr Scliar


País de origem: BRASIL

Partindo de uma idéia aparentemente inusitada, que acaba se revelando também muito boa, Scliar escreve cada um dos seus 85 contos presentes neste livro, a partir de manchetes reais de jornal (citando, inclusive, a fonte de cada uma delas). Tal experiência acaba criando um entre-lugar para o conto e a crônica. Um estranho e delicioso desconforto se instala no leitor, por não saber até que ponto a realidade influencia a ficção, ou a ficção influencia a realidade. Será o cotidiano, imaginário? Leia e descubra. (B.S.)

NOVAS SELETAS de João Cabral de Melo Neto


País de origem: BRASIL

Seleção dos melhores poemas de João Cabral de Melo Neto, organizado por Luiz Raul Machado. Leitura da maior qualidade de parte da obra de um dos maiores poetas brasileiros. João Cabral consegue um efeito único em seus versos: faz poesia (algo tão sublime, lírico, delicado ou simplesmente, sutil) com argumentos, temas e palavras concretas. Traz o lirismo da dureza da vida, do cotidiano simples e rústico. As notas que acompanham os poemas neste livro (de L. R. Machado) não tem a intenção de "explicar" o poema, mas sim de nos deixar mais "a vontade". (B.S.)

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Dani-se tudo

Ela é aquilo de bom
Que o sonho anunciava
Que o desejo nutria
Que a alma esperava

E o melhor de tudo:
Minha.

(B.A.S. - 12/05/2010)

No álcool

Ah, o álcool!
O azeite para a carne humana
Que da vida tão desumana
Do seu tempero nos dá de saciar.

No hálito de Dionísio
No caminho inexato
No olhar promíscuo
Na sarjeta de fato

(B.A.S. - 22/01/2005)

Não posso segurar-te

Caso

Caso queiras casar
Diga a ela que caso.

Caso não seja o caso
Diga a ela que não caso.

Caso não seja nehum dos dois casos
Para que criar mais caso?

(B.A.S. - 30/12/2004)

terça-feira, 11 de maio de 2010

Fadas

Entre lençóis desarrumados
Dorme uma fada
No dorso de alguém

Guarda seu sonho
Ouve o seu desejo
E promete que sua sorte será feliz.

- Esqueça os erros passados,
permita ser amada e
faça o outro feliz também!

Conselhos de fada de rosto risonho
Que se confunde ao olhar no espelho:
- Ela sou eu, ou o meu reflexo assim?

Fadas (B.A.S.) – 11/05/2010

A CIDADE DO SOL de Khaled Hosseini


País de origem: AFEGANISTÃO

Linda história sobre duas mulheres afegãs: Mariam e Laila. Hosseini, com uma delicadeza e percepção que lhe são próprias, descreve todas as desventuras dessas duas personagens, tendo novamente um Afeganistão em combustão (como em “O Caçador de Pipas”) como pano de fundo. Nos é revelado como é difícil ser mulher em um país mulçumano; como é difícil ser pobre em um país em franca destruição; como é difícil ser bom e virtuoso num ambiente hostil e corrompido. Mas é possível falar de amor e, o autor, consegue de forma primorosa. O amor de Mariam por seu pai Jalil, o de Laila por seus filhos e Tariq e, principalmente, o de Laila por Mariam. Mulheres destruídas pela guerra e pela vida, mas que nunca deixaram de sonhar. Parentes por destino atroz, irmãs por opção e espírito. (B.S.)

A LÍNGUA NOSSA DE CADA DIA de Deonísio da Silva

País de origem: BRASIL

Reunião de vários artigos do renomado professor do meio acadêmico Deonísio da Silva, que não se limitem, simplesmente, a tecer “conselhos gramaticais” a nós pobres mortais, como muitos “Pasquales” e “Nogueiras” costumam fazer. Em suas linhas, o professor além de demonstrar sua erudição, revela nuances de crítica social, conhecimento amplo de História do Brasil e Universal e atualidades. Imperdível, para especialistas ou não. (B.S.)

AS VIDAS DE CHICO XAVIER de Marcel Souto Maior

País de origem: BRASIL

Neste livro percebemos no jornalista um misto de admiração e distanciamento por tão intrigante personalidade: Francisco Candido Xavier. Admiração sim. Chico Xavier, que foi quase unanimidade entre os brasileiros, não importando o credo. O ateu Marcel não fugiria a “quase” regra. Distanciamento também. Marcel nos proporciona um excelente retrato biográfico do “Mineiro do Século”. Seu texto, além de abrangente, não nos induz a tornarmos espíritas, mas sim revela o trabalho e a humanidade de um dos mais influentes brasileiros dos últimos tempos. (B.S.)

quarta-feira, 28 de abril de 2010

POR TRÁS DO VÉU DE ISIS de Marcel Souto Maior

País de origem: BRASIL

O já famoso e renomado jornalista “Global” Marcel, fazendo jus a sua reputação de imparcial e competente, traz neste livro uma investigação minuciosa sobre o universo, por vezes controverso e propenso a fraudes e impressionismos, da psicografia. Entrevistas com pessoas que buscam informações de seus entes queridos recém-falecidos, médiuns, cientistas, dissidentes do espiritismo, praticantes e simpatizantes do espiritismo, todos tem voz. Marcel, por sua vez, é todo ouvidos, e se isenta de “utilizar adjetivos”, como ele mesmo diz. Tarefa, aliás, que cumpre exemplarmente. Os fatos encontrados e devidamente registrados estão neste livro, cabe ao leitor as conclusões que lhe sejam justas. Perguntas sem respostas? Várias. Este não é um livro de conclusões, é um livro de novos questionamentos e, quem sabe a partir daqui, sem preconceitos. (B.S.)

COMO UM ROMANCE de Daniel Pennac

País de origem: FRANÇA

Belíssima reunião de ensaios/crônicas sobre a relação dos seres humanos com a leitura, da alfabetização durante a infância até a vida adulta. Pennac demonstra muita intimidade com o tema leitura, (é professor de francês há mais de 20 anos), e seus textos detêm determinadas sutilezas de um exímio observador. A descoberta do mundo dos signos (letras, palavras, frases, marcas de produtos) pelos pequenos recém-alfabetizados, a “deseducação” da escola ao impor leituras, análises e fichas, a pseudo-responsabilização da televisão por conta da falta do hábito da leitura dos nossos jovens, “os direitos imprescritíveis do leitor”. Nada de textos teóricos sobre o tema, pois Pennac, como o próprio título do livro sugere, organiza seus capítulos “como se fossem” parte de um romance mesmo. Tudo isso e muito mais você encontrará durante a leitura de “Como um Romance”, além do, é claro, prazer de ter nas suas mãos um excelente livro, que certamente será degustado página a página, como um prato saboroso. (B.S.)

sábado, 24 de abril de 2010

WHAT LÍNGUA IS ESTA? de Sérgio Rodrigues

País de origem: BRASIL

O jornalista mineiro, Sérgio Rodrigues, discute em seu livro (reunião de várias crônicas/artigos publicados em grandes canais de mídia escrita) como a língua portuguesa pode sofrer, se enriquecer ou se confundir com outros bichos, sejam estrangeirismos, neologismos ou simples modismos. Nem o presidente Lula escapa do olhar e da caneta inteligente de Sérgio, que demonstra profunda intimidade com o idioma pátrio. Intimidade esta que revela preocupação, sarcasmo, ironia, bom-humor e, principalmente, conhecimento de causa. Precisamos de mais jornalistas como Sérgio: amante da própria língua, carinhoso, e não-antiquado. (B.S.)

Gosto

Fugir da dor
Ter na boca o sabor
Amargo do horror
De um dia ter perdido um amor

Sobremesas para os insensíveis
E distraídos...

(B.A.S. – 23/09/2003)

E

Cadê?
A cadência...
Carência.
Cadáver...

Por quê?
Que porto?
Que me importa.
Portal pro nada...

(B.A.S. – 2003)

Provocação

Quero te roubar pra mim
Um pouco da tua alegria
Nostalgia de algo que eu não tenho
Mas quero...

Quero te roubar pra mim
Guardar comigo o momento que você sorri
Ou quando chora.
Tanto faz, é sempre bonito
Rindo ou chorando, eu quero...

Quero te roubar pra mim
Não sei nem se é possível
Se não é nada ou alucino.
Sei que você já é minha.
Mas só por capricho,
Quero roubar você pra mim.

(B.A.S. – 31/12/2003)

Fúria Canina

Cães rasgam roupas. Desde aquele moletom que você usa para dormir ao seu sapato de cromo alemão.

Cães fazem assepsia de suas genitálias com a própria boca. E não venha me dizer que comer aqueles corrimentos esverdeados é algo natural.

Cães fazem sexo. Sempre ao ar livre e nunca em lugares pouco movimentados. Gostam de se exibir. Caras obscenas são as que eles fazem sem o menor pudor. Carregados de desdém por qualquer transeunte que esteja passando.

Cães uivam e ladram. Principalmente de madrugada, pois não sabem diferenciar o que pode ser realmente perigo para o seu dono. Ladram com a mesma voracidade tanto para um sapo quanto para um ladrão. E estão literalmente se fodendo se você trabalhou o dia inteiro e está cansado.

Cães comem qualquer coisa. Do mais repulsivo bolinho frito de rodoviária à própria bosta. Sendo que esta, eles prefere comer ainda quente. E isso quando não apenas a pisam ou rolam por cima daquela massa amorfa e fétida. Brincam com a bosta como se fosse um elixir de vitalidade canina.

Cães. Têm que ser vacinados, dar banho, retirar o coco e ir ao veterinário.

Alheias a tudo isso, duas senhoras com seus respectivos cães pequineses no colo, conversavam sobre a vida dos outros, calmamente, aproveitando o sol da manhã em uma pracinha. Hábito este desenvolvido quando ambas descobriram que tinham reumatismo.

- Você viu, Graça, que jeitinho de vagabunda a filha da Tânia tem?

- Já até avisei o meu neto, Rosa. Não quero vê-lo metido com essa piranhazinha.

- É essa tal de educação moderna que os nossos filhos teimam em dar para os nossos netos. Bela merda.

- Depois dizem que nós avós é que estragamos seus filhos.

Nisto, chega a terceira velha, só que esta sem cachorro.

- Bom dia, Rosa! Bom dia, Graça!

- Bom dia, Tânia! Dizem ironicamente as duas.

Sem perceber a ironia, Tânia continua:

- Mas que cachorrinhos mais lindos. Olha só que gracinha, com a camisa da seleção!

Tânia pega a cabeça do cachorrinho de Rosa e a sacode em um carinho totalmente desajeitado. O cão, mesmo tonto, parece gostar. Repentinamente Tânia fala:

- É muito bom ter um cachorrinho assim. Pequenininho, de pêlo curto. Dá tão pouco trabalho, não é?!

E completa:

- Às vezes, é melhor que qualquer cristão.

Ouviu essa, Jesus Cristo?...

(B.A.S. – 28/06/2002)

Mineirinha

Uma noite dessas, indo de Petrópolis para o Rio de Janeiro, de ônibus, em um dia em que seu humor está para lá de péssimo, eis que encontramos figuras pelas quais tomamos como referência de sentido para toda a vida.

Era uma daquelas típicas e enfadonhas noites petropolitanas. Chuva fininha e densa. Daquelas que você diz que não precisa de guarda-chuva, mas acaba se molhando se não o usa. Como eu.

Bom, estou eu na fila, esperando o motorista vir receber as passagens e abrir o ônibus, quando noto a presença de três mulheres se aproximando.

Sempre quando fazemos algo que nos chateia ou aborrece, procuramos alguma coisa para nos entreter, além da já manjadíssima paisagem da viagem. Reduc, parque gráfico de O Globo, aeroporto, Favela da Maré e assim por diante. Se você já fez essa viagem, com certeza deve estar bocejando agora.

Mas voltando as nossas três personagens. Eis o meu entreterimento de viagem.

De logo se via que não eram petropolitanas, pois eram espontâneas, de riso fácil e comunicação corporal desenvolvida. Meu subconsciente parece que me dizia, na intensidade de um pisca-pisca de árvore de Natal: só podem ser de Minas.

Formavam três gerações de uma família: avó, mãe e filha. Demonstravam muito carinho e respeito uma pela outra. Logo hoje em dia em que estão cada vez mais raros de se ver esses espetáculos de ternura familiar explícita. Principalmente assim tão “expostos”.

Entrei no ônibus. Encontrei minha poltrona e me acomodei. Elas ficaram para trás, pois foram colocar suas bolsas no bagageiro. Consegui ver a mais nova pela janela. Nos entreolhamos. Sorriu marotamente para mim, e acredito que retribuí, pois fiquei meio extasiado. Gostei disso, porém não me importei o bastante para ficar reparando no que ela estava fazendo.

Finalmente entraram no ônibus, por ordem de idade. Primeiro a avó, depois a mãe e por último, o rostinho mais brejeiro que eu já pude ter a oportunidade de ver e apreciar. Deixei a desatenção de lado e fui dedicar toda a minha atenção a ela. Se eu tinha que me entreter, que fosse por algo realmente agradável.

Foram se acomodar. Avó e mãe foram sentaram-se mais para trás. Do meu lado já não havia mais lugar, mas atrás de mim, sim. Foi assim que descobri seu nome.

- Natalí, você quer se sentar aqui? Tem lugar vago do nosso lado.

- Não vó, obrigada. Mas achei um lugar aqui na frente.

- Já ligou para o seu pai hoje, Natalí?

- Já sim mãe.

Natalí... Soou tão bem quando acordar com barulho de passarinhos. E era exatamente isso que ela me passava. Uma paz campestre, saudável e feliz. Ah,... o sonoro e lindo sotaque de Minas.

Casar-me com alguém tão meiguinha... Talvez ela nem assim fosse, mas e daí? O que importa mesmo, é que tive entrererimento da melhor qualidade em minha pachorrenta viagem.

Imaginei-me casado, e morando em Minas em alguma cidade com nome de santo. Com três filhos felizes, hiperativos e desgrenhados. Com as camisas sujas daquela gosminha de jaboticaba e barro do quintal. Alguns com a nariz escorrendo, outros com apenas os pés descalços.

Estava sentado em uma poltrona, com os pesem cima de uma mesinha de centro. Mesa esta feita com aquela madeira especial e duradoura, tão forte quanto o ferro. E entalhada pelo talento mineiro.

Pude perceber ainda que tinha uma pequena faca na mão com uma lasca de queijo branco na ponta. Que eu comia com uma pressa de baiano.

E da poltrona eu fitava Natalí, e tudo em volta, com o orgulho de um rei satisfeito de ver a prosperidade morando em seu reino.

E feliz por ter encontrado o amor.

Nunca queijo monas me pareceu tão gostoso...

Fez-me até esquecer que a chuva, havia molhado toda a minha roupa.

(B.A.S. – 14/04/2002)

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Sem amor

Vazio...
Ausência de calores e odores.
Uma caneca de café frio sobre a mesa.
E nada de sobremesa.
Nada é doce.
Gostos e sensações já não existem.
Talvez nunca tenham existido.
Talvez nada eu tenha sentido.

No alto da estante, um vaso de flores
Já secas ou mortas por falta d´água.
Ou de atenção, ou por nada.
Aqui, nada acontece.

O cinzeiro ainda sujo e
Garrafas por toda parte,
Que de qualquer jeito parte
Uma consciência minha
Que outrora existiu.
Só que partiu, junto com o álcool.

Perspectivas já não existentes ou
Os desânimos de agora
E um passado tenebroso,
Mais que coexistem.
Interrelacionam-se.
Desespero odioso.
E os meus demônios ainda crêem
Na certa e objetiva desgraça,
Que está por vir.
Que estou por sentir,
Por falta de amor.

(B.A.S. - 05/01/2001)

Algum lugar

Vida, valência, vale, vastidão.
Violência, viola, vislumbre.
Vazante, voracidade.
Viva!

Sonho, sentimento, sexo, sintoma.
Serpente, suspiro, susto.
Santo, suave.
Soberbo.

Amor, amigos, amantes, "affairs".
Ator, atroz, antigo.
Agora, adora.
Aurora.

Eu, você, nós, todos.
Sempre, eterno, constante.
Juntos, somente.
Em algum lugar onde exista.
Um SONHO de AMOR na minha VIDA.

(B.A.S. - 09/12/2001)

O CARTEIRO E O POETA de Antonio Skármeta

País de origem: CHILE

A inusitada amizade entre o poeta Pablo Neruda e seu carteiro Mario, de um cliente só, o próprio poeta. Mario queria algo que nem sabia o que era, mas que o poeta tinha. Não era apenas a intimidade com as palavras, mas o modo de vida. Mario glamurisa seu herói. E esse se torna humano demais fazendo com a relação dos dois se torne eterna e mais forte. Pablo precisa de Mario para não esquecer seu Chile inspirador, suas cores e seu sabor. Mario precisa de Pablo, para não deixar de acreditar em heróis, em amizade e no amor. (B.A.S.)

DOSSIÊ BRASÍLIA - OS SEGREDOS DOS PRESIDENTES de Geneton Moraes Neto

País de origem: BRASIL

Livro de entrevistas feitas com nossos quatro ex-presidentes vivos, por Geneton Moraes Neto. Jornalista experiente, Geneton sai do lugar-comum e das perguntas idiotas e vai direto ao ponto nevrálgico dos entrevistados, sem deixá-los em saia justa. Seu método persuasivo consegue fazer com que nossos ex-presidentes revelem pérolas de seu passado: um Itamar Franco persuadido por congressistas e senadores a fechar o Congresso Nacional; Collor e o "quase-suicídio"; Sarney e testes de bombas atômicas; FHC e intervenção militar na Colômbia. Não é ficção, acreditem. (B.A.S.)

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Força

Preciso
Que o que já tenho
Seja maior ainda

Preciso
Que o que necessito
Seja para agora

Preciso
Que a minha fé
Seja viva para a vida

Preciso
Que a minha consciência
Perceba o divisor de águas

Preciso
Que o meu renascimento
Seja integral

Preciso
De força para acreditar

Que a tormenta se vai
E a calmaria não custa a chegar.

(B.A.S.)

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Menina

De repente
Aprendi que o inesperado
Nos é oferecido, nas horas improváveis.
Impossível não se contagiar.
Estímulos para um coração cansado.
Largo-me.
Entrego-me.

Menina de belos olhos,
Olhos doces, contemplativos.
Receba meus desejos,
Entrega-me teus sonhos.
Impossível não se contagiar.
Resgate minha capacidade de sonhar e
Anime meu coração, em definitivo.

(B.A.S. - 03/02/2010)

Serei assim

Serei assim,
Incansável,
Enquanto o desejo de ser feliz
Se fizer presente.

O que há para mim
De paupável,
Descobrirei por um triz,
Fugindo da mente.

(B.A.S. - 03/02/2010)

A busca

Você me faz sorrir.
Quando sorri também.
Quem sabe o amor, a vir?
Sorte de quem tem.

Quem mandou cruzar meu caminho?
Que anjo bom acendeu uma estrelinha
No alto da sua cabeça? Luz e brilho.
Reflexo de sua alma colada à minha.

Você me faz bem
Quando no peito sinaliza saudade.
Lembro que o que se tem,
Supera qualquer maldade.

Quem mandou me olhar em silêncio?
Quem mandou encostar minha boca na tua?
Quem mandou ficar com o corpo tenso?
Quem mandou me fazer perceber, que acabou a busca?

(B.A.S. - 03/02/2010)

Solidão

Solidão
É bem mais que o gosto do álcool,
A fumaça de um cigarro,
O miado de mum gato,
Louça para lavar,
A lembrança de uma calcinha pendurada no registro do banheiro.

Solidão.
É bem mais que a recordação
Do aroma de perfume de mulher passando livre pela sala.
Brigas e discussões que tinham por motivo TPM.
Se um quadro ficaria melhor no corredor ou no quarto.

Solidão
É bem mais que não achar graça em nada mais.
Abrir um jornal e ter paciência só para ver as fotos e os quadrinhos.
É começar a acreditar em horóscopo.

Solidão
É falar com o papagaio sobre problemas amorosos.
É esperar que ele dê uma resposta.
É ficar aborrecido por ele não ter dado nenhuma resposta que fizesse sentido.

Solidão
É melancolia, loucura, incensatez.
É estado de espírito.
É espírito sozinho, a vagar em lembranças.

(B.A.S. - 17/08/2001)

Balela

Livros...
Frutos da imaginação
De alguém.
Que desdém,
Ou tem
Carinho para dar
Por falta de recebê-lo.
Sem apelo,
De graça, na praça.
Sem pirraça,
Ou coisa parecida.

Poetas...
Corjas de carentes
Que curam a carência dos outros
Por tão pouco.
Com romances, poemas, ensaios...

Balelas?!
Se você está lendo isto,
É porque não o são.
Balela é ver televisão,
Enquanto um livro do Neruda a calça.

(B.A.S. - 09/12/2001)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Apenas sonhos?

Espero pelo o que ainda não sei
Só sei que existe
É belo, é meu e me fará bem
Só espero não ter que descobrir
Que o que existe
É só uma cama desarrumada depois de acordar

Sonhos são apenas sonhos
Tenho vontade de sonhos reais
Esses sim, mais que tudo
São a realidade de que preciso

(B.A.S.)

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Espero

Espero
Até quando
Que o tempo
Teime em fazer
Com que eu espere
Seu momento ideal

Até quando
Que o tempo
Teime em fazer

Seu momento ideal
Espero
Até quando?

(B.A.S.)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Por teu amor

Sou escravo
Vulnerável.
Sou servo
Aplicável.
Sou cativo
Maleável.

Sou espelho
Admirável.
Sou desejo
Incansável.
Sou gracejo
Amável.

Sou olhares
Paisagem.
Sou lugares
Viagem.
Sou frases
Mensagem.

Sou caneta
Palavra.
Sou cometa
Caçada.
Sou beleza
Espelhada.

Sou castelo
Segurança.
Sou elo
Esperança.
Sou eterno
Criança.

Sou forte
Invencível.
Sou sorte
Imprevisível.
Sou morte
Impossível.

Sou água
Refrescante.
Sou morada
Aconchegante.
Sou asa
Errante.

Sou pele
Calor.
Sou prece
Clamor.
Sou sede
Sabor.

Sou esperto
Astuto.
Sou certo
Segurto.
Sou gesto
Obtuso.

Sou raro
Precioso.
Sou caro
Presunçoso.
Sou estalo
Corajoso.

Sou trégua
Amplidão.
Sou légua
Lentidão.
Sou espera
Paixão.

Por teu amor.

(B.A.S. 15/08/2001)

O Homem e o Cão

O homem e o cão.
O homem já teve família.
Mulher e filhos. Na verdade três.
Mulheres, não filhos. Filhos são dois.
O homem também tinha amigos.
Bom, nem tão amigos assim.
Se assim fossem, ainda estariam com ele.
O homem já teve casa, carro e emprego.
E ele os perdeu exatamente na ordem contrária:
Emprego, carro e casa.
O homem é divorciado
E os filhos já são grandes e independentes.
Ah, não se pode esquecer:
Com rancor da educação paterna.
Era rígido demais.
As mulheres? Ele nunca mais as viu.
Casou-se com elas, cada uma em seu tempo,
Tão rápido como divorciou.
O único amigo que ainda tem, lembra disso tudo.
O cão.
Lembra da casa, do carro, do emprego, das mulheres
E dos filhos do dono.
Lembra de quando o homem era feliz.
O cão não tinha família. Foi castrado.
Casa? Dormia no tapete da sala.
Hoje é no meio da rua, como o dono.
Com o dono.
Emprego? Nunca o perdeu.
Continua esempre continuará,
Amigo de seu dono.
Fazendo-lhe companhia no meio-fio de uma rua qualquer.
Olhando para casas, de gente supostamente feliz.

(B.A.S. 17/08/2001)

Ainda é cedo

Ainda é cedo
Não podemos nos precipitar
O tempo do medo
Tem prazo para acabar.

A "força" nos leva em frente.
Queremos para ontem
O que só vai chegar amanhã.

Desejo predominante da mente.
Nossas incertezas o que são?
Novas auroras com gosto de maçã.

A palavra "amor"
Ainda se faz proibida.
Mas fica ali, escondida
Atrás do gostar,
Doida para se expor.

Ela coça na boca.
Batuca na mente.
Mas aguarda um evento
Que providencie a ocasião.

Quero aquela pessoa,
Não mais que imediatamente.
E de um meio-fio, observo o tempo,
Que sai, dando espaço à paixão.

(B.A.S.)

BELLINI E A ESFINGE de Tony Bellotto

País de origem: BRASIL

Tony Bellotto, o talentoso "titã", nos apresenta neste belíssimo romance policial a figura simpática, complexada e desajeitada de Remo Bellini, detetive particular. Entre casos complexos de crimes, com poucas pistas ou pistas falsas, Bellini tentará, junto com seus fantasmas do passado, seguir a pista certa para a resolução do caso. Este livro não tem nada de excepcional, porém, Bellotto revigora o gênero ao trazer seu herói (Bellini), tão intrigante quanto os casos que resolve. E tudo com muito bom humor e leveza. (B.A.S.)

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

NOÇÕES DE COISAS de Darcy Ribeiro

País de origem: BRASIL

Em uma mistura inusitada de Ziraldo e Darcy Ribeiro, este "livro meio enciclopédia" de criança perguntadora, chama a atenção para assuntos sérios e para outros não tão sérios assim. Noções de coisas é um livro para curiosos, que sentem uma coceirinha no cérebro diante de uma coisa que ainda não conhecem ou entendem (ou acham que entendem). (B.A.S.)

O QUE MUDA COM O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO de Evanildo Bechara

País de origem: BRASIL

O controverso professor Evanildo Bechara, neste livro, pretende explicar sem muita complicação (se é que isto pode ser possível), o novo acordo ortográfico da língua portuguesa. A leitura deste manual vale por dois bons motivos: o primeiro é que, gostem ou não, Evanildo Bechara é o maior gramático da língua portuguesa vivo, o que faz dele uma referência no assunto; o segundo é que o acordo já está em vigor e é preciso criar intimidade com ele o quanto antes (com acordo, não com o professor Bechara). (B.A.S.)

NOITE NA TAVERNA de Álvares de Azevedo

País de origem: BRASIL

Assassinatos, incesto, antropofagia, adultério, duelos, sexo e necrofilia são alguns dos muitos pontos extravagantes deste livro. Ambientado em uma taverna (bar), alguns conhecidos resolver contar suas experiências mais marcantes. Cada um assume a voz do narrador, em capítulos separados, para a sua história. Herdeiro notável do byronismo no Brasil, Álvares de Azevedo mostra nesse livro, porque é o autor mais importante do ultrarromantismo brasileiro. O que tinha tudo para ser um livro de contos por conta da sua divisão de capítulos, mostra-se um intrigante romance com um desfecho surpreendente, revelado apenas em seu último capítulo. (B.A.S.)

A HORA DA ESTRELA de Clarice Lispector

País de origem: BRASIL

Macabéa é um ser inacabado de vida inacabada, que acaba nem tendo motivos para começar. A sagacidade literária de Clarice faz com que nos deparemos, neste livro, com um conflito do personagem do "escritor", que também narra a história, com a sua obra (na qual Macabéa é a personagem). Personagem único na literatura brasileira, sua tragetória nos faz pensar em nossas mazelas. Pensar em defeitos nossos, cotidianos, que Clarice os torna enormes. Impossível conhecer Macabéa e não pensar na nossa própria miséria humana. Riremos do feio e do grotesco e depois sentiremos vergonha, por conta de nos reconhecermos nela (tão parecida conosco). (B.A.S.)

O CAÇADOR DE PIPAS de Khaled Hosseini

País de origem: AFEGANISTÃO

Juro que por algum tempo, olhei este livro com olhos preconceituosos. Já que “toda unanimidade é burra”, nunca consegui ver os best-sellers com bons olhos e este é um livro campeão entre eles. Olhei com mais preconceito ainda quando ele rapidamente foi adaptado para o cinema e tinha o Afeganistão como pano de fundo. Mais um livro afetado por questões étnicas, políticas e religiosas (Será que já havia esta intensão no autor?). Não importa. O livro de Khaled Hosseini é primoroso e não tem nada de afetado. Este é um livro sobre a amizade, a honra e o orgulho. Personagens fantásticos como Amir e Hassan nos jogam na cara verdades veladas, hipocrisia do mundo adulto e desmascaramento da fantasia. O Afeganistão pré e pós Talibã é o pano de fundo, o que em nada torna afetado ou ideologicamente conduzido este romance afegão. Leiam o quanto antes este livro de verdades que muitos adultos esquecem. “É sempre tempo de se conseguir o perdão”? (B.A.S.)

CRIME FEITO EM CASA. Vários autores. Organização de Flávio Moreira da Costa

País de origem: BRASIL

Antologia de contos policiais e/ou de suspense (gênero tão menosprezado pela academia e pela crítica especializada). O livro proporciona algumas gratas surpresas com histórias de alguns autores consagrados (Machado, Lima Barreto, João do Rio, Dalton Trevisan, Pagu) e outras feitas pela nova geração. Talvez, pela pouca tradição brasileira neste gênero, você se depare durante a leitura da antologia, com história horríveis (sem trocadilho). Mas a maior parte salva. (B.A.S.)

O FIO DAS MISSANGAS de Mia Couto

País de origem: MOÇAMBIQUE

Pode-se dizer, congratulando, que é um Guimaraes Rosa africano. Recria a linguagem, brinca. Mostra intimidade absoluta. Livro de contos repleto de figuras de linguagem, inversões, duplo sentido. Tinha tudo para se transformar numa extravagante experiência estético-verbal, mas não. Mia Couto supera qualquer clichê. Sua prosa se desenvolve de maneira viva, nas entranhas de quem lê. Quase sempre a mulher toma o protagonismo da história para si, e Mia parece caminhar por esse universo feminino com muita propriedade (Mia Couto é homem). Mulher-mãe, mulher-esposa, mulher-filha, mulher-amante, mulher-anciã, mulher-macho. Nunca inocente e frágil, simplesmente. Aliás, neste livro, entendemos que o simples é um pouquinho mais complicado do que parece. (B.A.S.)

O PROFESSOR REFÉM de Tania Zagury

País de origem: BRASIL

Se você for pai/mãe de aluno(a), tem que ler este livro para entender que o fracasso ou o sucesso de seu filho é algo que não tem apenas um responsável. A responsabilidade é de todos envolvidos no processo. Se você for aluno, não importa o seguimento, precisa ler este livro para entender que a sua responsabilidade, às vezes, é a maior entre todos os envolvidos (pais, professores e alunos). Se você for professor encontrará neste livro várias respostas para suas inquietações, não eximindo-o de sua parcela de responsabilidade. O melhor livro já escrito até hoje sobre o porquê do fracasso na educação brasileira. (B.A.S.)

A VACA E O HIPOGRIFO de Mario Quintana

País de origem: BRASIL

Poeta do simples, refinadamente simples. Poeta objetivo, complexamente direto. Poeta corriqueiro, poeticamente vulgar. Mario Quintana, neste livro, reúne diversos gêneros textuais, despretenciosamente: crônicas, poesias, contos, pensamentos, silogismos, quase-provérbios, conselhos, impressões... Nos fazendo olhar pelos olhos do poeta. Nos dizendo que também é possível ler e fazer versos. Mas não é tão simples assim. Quintana, na sua clareza e objetividade poética nos faz entender que o simples, por vezes, já é bastante complicado por si só. Porém, seu objetivo, certamente, era não complicar. Leia e só. Até mesmo porque: "Mas, afinal, para que interpretar um poema? Um poema já é uma interpretação. - MQ" (B.A.S.)

O DIÁRIO DE ANNE FRANK de Anne Frank

País de origem: ALEMANHA

Adolescente judia decide escrever um diário enquanto ela e sua família, mais a família van Daan (todos judeus) se escondem da SS de Hitler num anexo de uma fábrica de temperos na Holanda, durante a Segunda Guerra Mundial. Sinopse de um livro ficcional sobre o holocausto? Não. Os personagens descritos neste livro são todos reais e os fatos todos verídicos. Anne Frank tem seu diário íntimo publicado por seu pai, Otto H. Frank, alguns anos após o término da guerra. Durante a leitura do livro temos a impressão que se trata de um romance e que não passa de uma ficção baseada em fatos reais. Essa impressão talvez aconteça por conta da prosa irretocável utilizada por sua autora. Anne, chama seu diário carinhosamente de Kitty, humanizando-o, e mantém um diálogo (se é que podemos dizer isto) onde desabafa todas as suas espectativas, esperanças, revoltas, frustrações, revoltas, desejos e paixões. De comportamento solitário, como a maioria dos adolescentes, Anne entende seu diário como uma amiga-confessora, já que julgava ser incompreendida por seus pais e por quase todos os adultos. Seus exercícios de auto-crítica e reflexões sobre o holocausto judeu promovido pelos alemães, nos proporciona lindas imagens e cenas emocionantes. Por conta de sua esperança de menina, honestidade e alegria, é uma pena que ela não tenha sobrevivido a todo esse horror. E ela mesmo tivesse continuado a ver com seus olhos poéticos, um mundo tão cinza, mas manchado de vermelho, e continuasse a nos contar. (B.A.S.)

ANTOLOGIA POÉTICA de Cecília Meireles

País de origem: BRASIL

Um livro de poesia é sempre um convite à introspecção, auto-conhecimento, deslumbramento com o simples, percepção do invisível. Mas quando a poetiza é Cecília Meireles, todas essas percepções e muitas outras se adensam, multicolorem-se, contagiam. Meiga sem ser melosa, solitária sem ser decadente, apaixonada sem ser tola. (B.A.S.)

O PIANO E A ORQUESTRA de Carlos Heitor Cony

País de origem: BRASIL

Caso você esteja acostumado com o Cony articulista do jornal "O Globo" ou com o meigo e poético cronista da contemporaneidade, você vai se surpreender com este livro. É outro autor. Neste romance de Cony tudo roda. A narrativa, a vida das personagens, as sequências, as situações, a roda-gigante. Somos surpreendidos por uma história empolgante e hilariante onde são contadas as histórias do anti-herói (talvez o anti-Cristo) Francisco de Assis Rodano (até seu nome roda), o próprio diabo encarnado, nascido no interior do Estado do RJ, ao longo dos trilhos da Estrada de Ferro da Central do Brasil. Beira o fantástico sendo realista, é quase fábula, é impagável, é imperdível. (B.A.S.)

OS PASSOS EM VOLTA de Herberto Helder

País de origem: PORTUGAL

Autor de prosa-poética intensa, que escreve quase que na velocidade do pensamento. Nos deparamos com seu universo mental com uma intimidade desconcertante. Textos primorosos para histórias banais em situações banais. Papo de bêbado que tem um nível cultural mais elevado. Filosofia de boteco embasada. Imperdível. Leia para ontem. Leitura para iniciados. (B.A.S.)

ORGIAS de Luis Fernando Veríssimo

País de origem: BRASIL

O melhor do conto do impagável e hilariante Veríssimo sobre a temática das festas, confraternizações, sexo e outros bichos. Não há o que comentar, leia tudo o que você vir deste homem. Imperdível. (B.A.S.)

ESTE ADMIRÁVEL MUNDO NOVO de Ruth Rocha

País de origem: BRASIL

Este livro infanto-juvenil trata de maneira brilhante, sem menosprezar seus leitores, de assuntos bastante relevantes. Relato surpreendente de um extra-terrestre durante uma visita ao planeta Terra. Em linguagem muito simples aborda-se assuntos por demasiado importantes. Superlotação das grandes cidades, como o outro nos vê, o que estamos fazendo com a educação de nossas crianças. Esse mundo é nosso, quer você queira ou não. Não se esqueça que ele é seu, você faz parte dele e deve assumir suas responsabilidades. Não existe faixa etária para ser leitor de Ruth Rocha. (B.A.S.)

LISÍSTRATA - A GREVE DO SEXO de Aristófanes

País de origem: GRÉCIA

Mulheres casadas, cansadas de ver seu país em constantes guerras e seus maridos metidos nelas (nas guerras) resolvem, lideradas por Lisístrata, fazer greve de sexo. Tal atitude desencadeia nos homens: desespero, insatisfação, irritação e, curiosamente, uma ereção coletiva por toda a Grécia. Texto engraçadíssimo com situações mais que inusitadas é garantia de boas risadas do início ao fim. A tradução de Millôr, mestre do humor brasileiro, só melhora o que já era bom demais. Agora, atentem para o ano da obra: 441 antes de Cristo! Para quem acha que o mundo anda perdido por causa da libertinagem, muita calma. Isso vem de muito tempo... E nem é tão ruim assim... (B.A.S.)

A ÁGUIA E A GALINHA de Leonardo Boff

País de origem: BRASIL

Primoroso livro do teólogo Leonardo Boff, onde se consegue falar de religião sem catequizar ninguém, porque se fala de religiosidade. Mais que uma metáfora da condição humana usando arquétipos da águia e da galinha, Boff fala de atitudes, referências, escolhas, liderança e esperança. (B.A.S.)

A ESCURIDÃO E O MEL de Giovanni Arpino

País de origem: ITÁLIA

Talentoso escritor do realismo italiano, Arpino nos delicia com o instigante personagem Fausto G. Após um acidente ocorrido durante a guerra, Fausto fica cego e um pouco deformado. Decide, então, morrer em vida. A única maneira de demonstrar para os outros que ainda podia ser alguém interessante e de afasta-las é as tratando de maneira rude, estúpida e seca. Porém suas atitudes tem ação contrária do que se deseja. Será intencional ou não da parte do Capitão Fausto G.? (B.A.S.)

AS MENTIRAS QUE OS HOMENS CONTAM de Luis Fernando Veríssimo

País de origem: BRASIL

Mais um livro deste Gênio da literatura brasileira contemporânea. Com o seu humor impagável, Veríssimo nos proporciona boas risadas com o melhor das mentiras do universo masculino. P.S.: Mentiras femininas também se fazem presentes. E lembrem-se: sempre atrás de um grande mentiroso, existe, também, uma grande mentirosa. (hehehe) (B.A.S.)

CV PCC - A IRMANDADE DO CRIME de Carlos Amorim

País de origem: BRASIL

Pela primeira vez, alguém escreve algo sério sobre o crime organizado no Brasil. Suas origens, motivações, seus agentes e todas as mentiras e verdades colocadas sob um manto de hipocrisia. Se você acha que o tráfico de drogas se resume ao que você assiste nos telejornais de canal aberto ou no que os secretários de segurança divulgam, saia do "Fantástico Mundo de Bob" e descubra a verdade sobre o crime organizado, armas e drogas. Congratulações para Carlos Amorim pelo excelente trabalho de pesquisa e pela coragem de falar a verdade em um lugar (Brasil) onde todos preferem uma mentira bem contada, para curtir seu baseado em paz. (B.A.S.)

AS CARIOCAS de Sérgio Porto

País de origem: BRASIL

Profundo conhecedor da alma e da mulher carioca, Sérgio Porto narra em seus contos as desventuras de personagens inesquecíveis tanto para a literatura quanto para o imaginário masculino cheio de libido - A Grã-fina de Copacabana, A Noiva do Catete, A Donzela da Televisão, A Currada de Madureira, A Desquitada da Tijuca e A Desinibida do Grajaú - mulheres que encantam, mas também revelam um profundo machismo dos homens e preconceitos de uma sociedade pseudo-conservadora de classe média carioca. Imperdível. (B.A.S.)

O CLUBE DOS ANJOS - GULA de Luis Fernando Veríssimo

País de origem: BRASIL

Em uma receita de ingredientes inusitados como um picadinho de carne, um grupo de amigos, uma bela mulher, um estranho talentoso de forno e fogão, segredos, assassinatos em série e alta gastronomia, o livro de Veríssimo se torna o delicioso prato principal. Aprecie com fome literária e boa digestão, digo, boa diversão. (B.A.S.)

A VIAGEM DE THÉO de Catherine Clement

País de origem: FRANÇA

Este livro extrapola seu subtítulo "Romance das Religiões". É muito mais que isto. Théo, garoto estudioso e curioso, levava uma vida tranquila, em meio a muitos livros, família e amigos. Religião é o seu tema favorito de estudo. Um belo dia, sua família descobre que ele sofre de uma doença grave, de difícil cura. Sua tia Marthe propõe um "tratamento alternativo": um volta ao mundo das religiões. Viajaram pelo planeta desvendando todos os mistérios, ritos, deuses, mitos e rituais. Esperava ela , assim, lhe dar um novo alento. Théo e sua curiosidade nos apresenta o mundo a partir do divino, sem preconceitos. Nesta viagem, Théo, além de saciar sua curiosidade, encontra respostas, amor e a cura. Milagre? Leia e descubra. É um livro de amor pela vida. (B.A.S)

O CONTO DA ILHA DESCONHECIDA de José Saramago

País de origem: PORTUGAL

Existe uma máxima que diz: "todo homem é uma ilha". Em um reino distante, que poderia ser em qualquer lugar ou tempo, um homem comunica seu desejo ao Rei: "Quero um barco"! Seria um sonho louco ir atrás de uma ilha que não existe? Um livro que nos faz pensar que o isolamento não é o último refúgio. Ou quase. (B.A.S.)

Artista

Existem pessoas que me chamam de desocupado.
Por saber viver.
Por trabalhar na realização de um sonho, até que consiga tê-lo para mim.
Por gostar de coisas não convencionais.

Existem pessoas que me chamam de deslumbrado.
Por fazer o que eu gosto.
Por estar sempre feliz.
Por querer o bem, de quem me quer mal.

Existem pessoas que me chamam de irresponsável.
Por viver o hoje, sem me preocupar com o amanhã.
Por querer guardar aplausos, ao invés de dinheiro.
Por amar sem medida.

Existem pessoas que me chamam de criança.
Por me divertir com muito pouco.
Por me fascinar no ouro, não o valor, mas o brilho.
Por estar sempre brincando com a vida.

Existem pessoas que me chamam de vagabundo.
Por me maravilhar com as ruas.
Por gostar de andar pelo mundo, viajando.
Por não estar adequando a uma sociedade vigente.

Existem pessoas que me chamam de dissimulado.
Por ter o poder de ser várias pessoas, em uma.
Por ter ideologias diferentes, em um único pensamento.
Por ter a imaginação como meio de transporte.

Existem pessoas que me chamam de assexuado.
Por entender a alma da mulher e do homem.
Por ter gestos, que na concepção "deles", são afeminados ou masculinizados.
Por amar dos dois jeitos os dois sexos.

Existem pessoas que me chamam de estúpido.
Por chorar de alegria e de tristeza.
Por cantar e dançar, sem motivo aparente.
Por manter sempre um sorriso no rosto.

Existem pessoas que batem palmas para mim.
Por trazer alegrias para suas vidas.
Por trabalhar com o que amo e fazê-lo bem feito.
Por ser eu mesmo.
Por ser artista.

(B.A.S. 13/08/2001)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Se fosse apenas

Se a vida fosse apenas sonhar:

Seria esperançoso,
Simples, maravilhoso.
Nunca dispendioso.
Belo e formoso.

Se a vida fosse apenas acordar:

Despertaria em um lugar bonito.
Retirava do peito todo o grito.
De andar, faria um agito
E da primavera um eterno estio.

Se a vida fosse apenas adormecer:

Procuraria a eterna paz,
Um acalanto que me satisfaz,
E um leito para em que jaz
Adormecesse sem olhar para trás.

Se a vida fosse apenas amar:

Sonharia como outrora.
Acordaria, mesmo agora
e adormeceria na mesma hora,
Para provar que amor, é de dentro para fora.

(B.A.S. 10/08/2001)

SÁVIO, O SABIÁ

Sávio era um pássaro como outro qualquer. Sávio já estava bem grande. O que proporciona um certo aperto no ninho onde nascera. Sávio morava com os pais num galho formoso e repleto de folhagens de uma amendoeira. O ninho foi confortavelmente construído em uma delicada bifurcação deste galho.

Deixando de lado agora a moradia, falemos do dilema de Sávio. Sávio era uma sabiá quase adulto. Um belo exemplar de sabiá-laranjeira. Um imponente peito alaranjado era seu motivo de maior orgulho. E graças a essa imponência e crescimento precoce, Sávio precisava de uma casa só sua.

Despediu-se dos pais e alçou vôo sobre o capoeirão. Sávio planava, planava, planava, e nada de encontrar um galho tão formoso quanto o da sua família. Decidiu parar para descansar no galho de uma mangueira.

Ao pousar, percebe a presença de outro pássaro. Percebe que o outro pássaro tem um pouco de palha no bico. Percebe que o outro pássaro é uma fêmea...

O que Savio não percebe, é que tinha encontrado o amor.
Sua nova família
e sua casa no início da construção...

(B.A.S. 19/02/2002)

SÁBIO SABIÁ

Soube que saberia
O que era o saber.
Sabia?
Não?!
Eu sabia que não saberias.
O que sei, era que você
Talvez o soubesse.
Mas não sabes
Não é?

Eu sei que sou além.
Agora, do que, é que eu não sei.
Também, quem saberá?
Ser o que sou e
Saber o que sei.

E o sabiá?
Que não sabe nada disso.
Não sabe nada sobre o saber.
Mas sabe cantar!
E como canta bonito...

(B.A.S.) 09/12/2001

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

QUANDO SABEMOS QUE É BOM

Sei quando é bom quando é inusitado. Sempre gostei que as minhas coisas fossem assim. Nunca planejo e as coisas acontecem. O gosto é sempre melhor. É um gosto de medo que nasce e morre na boca, na ansiedade de um beijo. Espectativa é sempre estimulante.

Quero histórias de amor que não podem ser contadas de um jeito comum, justamente por serem incomuns. O ato de amar é uma atitude poética por excelência, sempre fora do comum. E assim deve ser, sempre. Dias cinzas se colorem porque só sabem ser assim, coloridos. Rotina endurece ânimos, descolore visões. Preciso de dias mais coloridos, enquanto houver vida para mim. Isso me manterá vivo, isso me manterá feliz.

O problema está sempre nos olhos de quem vê as coisas. É uma questão de ponto de vista, pessimista, é claro. Somos aquilo o que pensamos ser e não adianta nos convencer do contrário. Para que possamos, então, melhorar o que somos, faz-se necessário valorizar o que temos de bom, e dividir com quem a gente gosta.

A isso dá-se o nome de amor
Ou poesia.
(B.A.S.)

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Belos olhos

Numa madrugada
Belos olhos me guiam.
Me guiam ou me dragam?

Desperta-se o sono, pois
Belos olhos me guiam
Pela escuridão da noite.
Da noite ou da vida?

Não há medo.
Como faróis eles mostram
O que não se vê com olhos comuns
Só com belos olhos.

Estimula-se o desejo.
Vê-se o desejo.
Belos olhos agora,
se tornam alvo.

Desejo como arma.
Belos olhos de desejo,
de fazer olhos comuns,
espelho para belos olhos.

Impossível parar de mirar
Impossível não querer ser alvo
Impossível não querer dormir
Na vigilância de belos olhos.

Como os seus. (B.A.S.)

Como faz falta

Tem dias em que acordo
Com angústia para encontrar algo.
Algo que me motive, anime...
... ou coisa do tipo.

Sinto vontade de rezar...
Para que eu encontre uma suposta paz.
Resposta para as inquietações da alma.
Alienção gratuita e egoísta
Sem encontrar ou incomodar alguém.
Só a mim mesmo,
Pois não encontro nada.

Sinto vontade de fumar...
Talvez me abra o apetite
Ou ainda, talvez, seja um convite.
Para algo nebuloso...
Tão denso quanto a fumaça
Do próprio cigarro.
Apago o cigarro na pia do banheiro...

Sinto vontade de chorar...
Na esperança que alguém se importe.
Que para mim haja pelo menos
Uma consorte
Ou com pelo menos mais sorte,
Do que eu a esperar a própria morte.

(B.A.S. 15/04/2002)

Ela é rica

Eu sou pobre
Ela é rica

Pobre de talentos
Rica de gracejos

Eu sou pobre
Ela é rica

Pobre de boas intensões
Rica de percepções

Eu sou pobre
Ela é rica

Pobre no espírito
Rica no capricho

Eu sou pobre
Ela é rica

Pobre de nascença
Rica na diferença

Eu sou rico
Ela é pobre

Rico em interrogações
Pobre em definições.

(B.A.S. 26/01/2010)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Ver o Verso Vero Verso

Vi que no verso
seu versejo era algo de se ver
Ver assim como quem lê
Imagem verídica

O poema expôe
Ferida aberta
Desejo estranho
Pão sobre a mesa

Coisas para se ver
Verso para ler
Respeito para ser ter
Por arte tão maldita

Viver entre versos
Caminhos entre as linhas
Ver o inverso
De um rio chamado vida. (B.A.S.)