MACONHA: SEMEANDO A DISCÓRDIA
Ainda não sei ao certo se vale a pena
descriminalizar a maconha ou não. Pelo menos eu penso assim.
Ok! Os efeitos negativos da maconha são quase
infantis quando comparados aos do álcool, que é uma droga lícita. Não estou
aqui para demonizar o álcool ou santificar a maconha. Não existem santos entre
essas substâncias.
A verdade é que ainda falta muita informação. Muita mesmo.
Os defensores da descriminalização da maconha vão dizer “leia isto”, “acesse
aquilo”, “converse com fulano”. Eu tenho, acreditem: lido, acessado e
conversado. Nada me convence.
Nunca fumei maconha. Não tenho nem desejo nem
curiosidade. Não espero nem honrarias nem um “muito bom, cidadão”, por isso. Não
me considero melhor do que ninguém por isso. Há dois anos me tornei pai e,
agora, me preocupo um pouco mais com o mundo que vou deixar para ela. Me preocupo,
sinceramente, sobre o possível uso de drogas lícitas ou ilícitas que ela possa
fazer no futuro. Então, vivencio esta inquietação de agora.
Haverá diálogo, assim espero, entre eu e ela. Espero
que meus argumentos e meu exemplo a influencie positivamente.
O problema é o mau uso que se faz dessas substâncias.
Você sabia que o êxtase (MDMA) foi desenvolvido em laboratório para ser um
medicamento no combate da depressão e da ansiedade? O problema é o mau uso das
pessoas não-doentes e o comércio ilegal envolvido nisto.
Você sabia que a cocaína já foi vendida com
estimulante em farmácias e que o cigarro de maconha (antigamente chamado de
cigarro indígena) era consumido livremente como um cigarro comum e bastante
defendido por suas propriedades relaxantes? Ambos a pouco mais de 100 anos
atrás.
Alguém pode dizer assim: a maconha está curando até
o câncer. Não é bem assim. Maconha não cura nada, pelo menos ainda nada foi
comprovado cientificamente. Nem se pode usar pessoas doentes para justificar o
uso da maconha na sua forma “recreativa”. Ela é usada em testes nos pacientes
de câncer na prevenção de convulsões de difícil controle, caquexia (fraqueza
generalizada), inapetência, náuseas causadas pela quimioterapia. Na esclerose
múltipla e no glaucoma também tem seus resultados positivos. Não cura, mas
atenua sintomas. Já venci um câncer e sei dos desagradáveis efeitos colaterais
da quimioterapia.
Como esses pacientes podem se beneficiar das
propriedades terapêuticas da maconha atualmente? Fumando um baseado? Claro que
não. Através do canabidiol (substância derivada da maconha. É referente a 40%
do composto). Teste em humanos revelam-se bem promissores e muitos resultados
positivos. O canabidiol é administrado via oral em quantidades específicas, não
causa dependência, nem traz ao paciente qualquer efeito da maconha fumada. O problema,
novamente, eu repito, é o mau uso que se faz dessas substâncias e o comércio
ilegal envolvido nisto.
Alguns militantes pró-liberação da maconha veem no
Uruguai a sua nova Ilha do Paraíso. Mujica, seu presidente, político arrojado e
corajoso, com muita seriedade, aprova a liberação do consumo entre os uruguaios
(turistas estrangeiros estão proibidos) da maconha. O governo uruguaio permite
o consumo máximo anual de 480g por pessoa, sempre adquirida em farmácias
autorizadas desde que o usuário seja colocado em um cadastro nacional. Sem o
cadastro, nada feito. Os usuários que insistirem em adquirir o entorpecente de
traficantes serão punido no rigor da lei local. Ou seja, combate ao tráfico de
drogas naquele país continua e é tratado de maneira muito séria. Será esse um
bom passo? Teoricamente sim, mas o tempo dirá melhor.
Alguém pode ainda falar das questões sociais
envolvidas em relação ao tráfico de drogas ou como isto é vivenciado nas
camadas mais pobres da população. As mortes prematuras, a banalização da
violência, o crescimento das facções criminosas (em território e influência), a
superlotação dos presídios, a desvalorização da escola, a desconfiança sobre a
polícia.
Todos esses, e outros, são problemas que todas as
sociedades que vivenciam o tráfico de drogas precisam se organizar para
discutir, formar opinião e, principalmente, agir na resolução dos problemas. Mas
algo que, com certeza atrapalha, são pessoas de todas as classes sociais, fumando
baseados de suas janelas ou varandas, fazendo questão de esquecer onde foi
comprada e quem vendeu a erva. O problema é seu, usuário ou não.
(B.A.S. – 29/05/2014)