ALGARAVIAS de Waly Salomão

ALGARAVIAS de Waly Salomão
ALGARAVIAS de Waly Salomão

quarta-feira, 28 de abril de 2010

POR TRÁS DO VÉU DE ISIS de Marcel Souto Maior

País de origem: BRASIL

O já famoso e renomado jornalista “Global” Marcel, fazendo jus a sua reputação de imparcial e competente, traz neste livro uma investigação minuciosa sobre o universo, por vezes controverso e propenso a fraudes e impressionismos, da psicografia. Entrevistas com pessoas que buscam informações de seus entes queridos recém-falecidos, médiuns, cientistas, dissidentes do espiritismo, praticantes e simpatizantes do espiritismo, todos tem voz. Marcel, por sua vez, é todo ouvidos, e se isenta de “utilizar adjetivos”, como ele mesmo diz. Tarefa, aliás, que cumpre exemplarmente. Os fatos encontrados e devidamente registrados estão neste livro, cabe ao leitor as conclusões que lhe sejam justas. Perguntas sem respostas? Várias. Este não é um livro de conclusões, é um livro de novos questionamentos e, quem sabe a partir daqui, sem preconceitos. (B.S.)

COMO UM ROMANCE de Daniel Pennac

País de origem: FRANÇA

Belíssima reunião de ensaios/crônicas sobre a relação dos seres humanos com a leitura, da alfabetização durante a infância até a vida adulta. Pennac demonstra muita intimidade com o tema leitura, (é professor de francês há mais de 20 anos), e seus textos detêm determinadas sutilezas de um exímio observador. A descoberta do mundo dos signos (letras, palavras, frases, marcas de produtos) pelos pequenos recém-alfabetizados, a “deseducação” da escola ao impor leituras, análises e fichas, a pseudo-responsabilização da televisão por conta da falta do hábito da leitura dos nossos jovens, “os direitos imprescritíveis do leitor”. Nada de textos teóricos sobre o tema, pois Pennac, como o próprio título do livro sugere, organiza seus capítulos “como se fossem” parte de um romance mesmo. Tudo isso e muito mais você encontrará durante a leitura de “Como um Romance”, além do, é claro, prazer de ter nas suas mãos um excelente livro, que certamente será degustado página a página, como um prato saboroso. (B.S.)

sábado, 24 de abril de 2010

WHAT LÍNGUA IS ESTA? de Sérgio Rodrigues

País de origem: BRASIL

O jornalista mineiro, Sérgio Rodrigues, discute em seu livro (reunião de várias crônicas/artigos publicados em grandes canais de mídia escrita) como a língua portuguesa pode sofrer, se enriquecer ou se confundir com outros bichos, sejam estrangeirismos, neologismos ou simples modismos. Nem o presidente Lula escapa do olhar e da caneta inteligente de Sérgio, que demonstra profunda intimidade com o idioma pátrio. Intimidade esta que revela preocupação, sarcasmo, ironia, bom-humor e, principalmente, conhecimento de causa. Precisamos de mais jornalistas como Sérgio: amante da própria língua, carinhoso, e não-antiquado. (B.S.)

Gosto

Fugir da dor
Ter na boca o sabor
Amargo do horror
De um dia ter perdido um amor

Sobremesas para os insensíveis
E distraídos...

(B.A.S. – 23/09/2003)

E

Cadê?
A cadência...
Carência.
Cadáver...

Por quê?
Que porto?
Que me importa.
Portal pro nada...

(B.A.S. – 2003)

Provocação

Quero te roubar pra mim
Um pouco da tua alegria
Nostalgia de algo que eu não tenho
Mas quero...

Quero te roubar pra mim
Guardar comigo o momento que você sorri
Ou quando chora.
Tanto faz, é sempre bonito
Rindo ou chorando, eu quero...

Quero te roubar pra mim
Não sei nem se é possível
Se não é nada ou alucino.
Sei que você já é minha.
Mas só por capricho,
Quero roubar você pra mim.

(B.A.S. – 31/12/2003)

Fúria Canina

Cães rasgam roupas. Desde aquele moletom que você usa para dormir ao seu sapato de cromo alemão.

Cães fazem assepsia de suas genitálias com a própria boca. E não venha me dizer que comer aqueles corrimentos esverdeados é algo natural.

Cães fazem sexo. Sempre ao ar livre e nunca em lugares pouco movimentados. Gostam de se exibir. Caras obscenas são as que eles fazem sem o menor pudor. Carregados de desdém por qualquer transeunte que esteja passando.

Cães uivam e ladram. Principalmente de madrugada, pois não sabem diferenciar o que pode ser realmente perigo para o seu dono. Ladram com a mesma voracidade tanto para um sapo quanto para um ladrão. E estão literalmente se fodendo se você trabalhou o dia inteiro e está cansado.

Cães comem qualquer coisa. Do mais repulsivo bolinho frito de rodoviária à própria bosta. Sendo que esta, eles prefere comer ainda quente. E isso quando não apenas a pisam ou rolam por cima daquela massa amorfa e fétida. Brincam com a bosta como se fosse um elixir de vitalidade canina.

Cães. Têm que ser vacinados, dar banho, retirar o coco e ir ao veterinário.

Alheias a tudo isso, duas senhoras com seus respectivos cães pequineses no colo, conversavam sobre a vida dos outros, calmamente, aproveitando o sol da manhã em uma pracinha. Hábito este desenvolvido quando ambas descobriram que tinham reumatismo.

- Você viu, Graça, que jeitinho de vagabunda a filha da Tânia tem?

- Já até avisei o meu neto, Rosa. Não quero vê-lo metido com essa piranhazinha.

- É essa tal de educação moderna que os nossos filhos teimam em dar para os nossos netos. Bela merda.

- Depois dizem que nós avós é que estragamos seus filhos.

Nisto, chega a terceira velha, só que esta sem cachorro.

- Bom dia, Rosa! Bom dia, Graça!

- Bom dia, Tânia! Dizem ironicamente as duas.

Sem perceber a ironia, Tânia continua:

- Mas que cachorrinhos mais lindos. Olha só que gracinha, com a camisa da seleção!

Tânia pega a cabeça do cachorrinho de Rosa e a sacode em um carinho totalmente desajeitado. O cão, mesmo tonto, parece gostar. Repentinamente Tânia fala:

- É muito bom ter um cachorrinho assim. Pequenininho, de pêlo curto. Dá tão pouco trabalho, não é?!

E completa:

- Às vezes, é melhor que qualquer cristão.

Ouviu essa, Jesus Cristo?...

(B.A.S. – 28/06/2002)

Mineirinha

Uma noite dessas, indo de Petrópolis para o Rio de Janeiro, de ônibus, em um dia em que seu humor está para lá de péssimo, eis que encontramos figuras pelas quais tomamos como referência de sentido para toda a vida.

Era uma daquelas típicas e enfadonhas noites petropolitanas. Chuva fininha e densa. Daquelas que você diz que não precisa de guarda-chuva, mas acaba se molhando se não o usa. Como eu.

Bom, estou eu na fila, esperando o motorista vir receber as passagens e abrir o ônibus, quando noto a presença de três mulheres se aproximando.

Sempre quando fazemos algo que nos chateia ou aborrece, procuramos alguma coisa para nos entreter, além da já manjadíssima paisagem da viagem. Reduc, parque gráfico de O Globo, aeroporto, Favela da Maré e assim por diante. Se você já fez essa viagem, com certeza deve estar bocejando agora.

Mas voltando as nossas três personagens. Eis o meu entreterimento de viagem.

De logo se via que não eram petropolitanas, pois eram espontâneas, de riso fácil e comunicação corporal desenvolvida. Meu subconsciente parece que me dizia, na intensidade de um pisca-pisca de árvore de Natal: só podem ser de Minas.

Formavam três gerações de uma família: avó, mãe e filha. Demonstravam muito carinho e respeito uma pela outra. Logo hoje em dia em que estão cada vez mais raros de se ver esses espetáculos de ternura familiar explícita. Principalmente assim tão “expostos”.

Entrei no ônibus. Encontrei minha poltrona e me acomodei. Elas ficaram para trás, pois foram colocar suas bolsas no bagageiro. Consegui ver a mais nova pela janela. Nos entreolhamos. Sorriu marotamente para mim, e acredito que retribuí, pois fiquei meio extasiado. Gostei disso, porém não me importei o bastante para ficar reparando no que ela estava fazendo.

Finalmente entraram no ônibus, por ordem de idade. Primeiro a avó, depois a mãe e por último, o rostinho mais brejeiro que eu já pude ter a oportunidade de ver e apreciar. Deixei a desatenção de lado e fui dedicar toda a minha atenção a ela. Se eu tinha que me entreter, que fosse por algo realmente agradável.

Foram se acomodar. Avó e mãe foram sentaram-se mais para trás. Do meu lado já não havia mais lugar, mas atrás de mim, sim. Foi assim que descobri seu nome.

- Natalí, você quer se sentar aqui? Tem lugar vago do nosso lado.

- Não vó, obrigada. Mas achei um lugar aqui na frente.

- Já ligou para o seu pai hoje, Natalí?

- Já sim mãe.

Natalí... Soou tão bem quando acordar com barulho de passarinhos. E era exatamente isso que ela me passava. Uma paz campestre, saudável e feliz. Ah,... o sonoro e lindo sotaque de Minas.

Casar-me com alguém tão meiguinha... Talvez ela nem assim fosse, mas e daí? O que importa mesmo, é que tive entrererimento da melhor qualidade em minha pachorrenta viagem.

Imaginei-me casado, e morando em Minas em alguma cidade com nome de santo. Com três filhos felizes, hiperativos e desgrenhados. Com as camisas sujas daquela gosminha de jaboticaba e barro do quintal. Alguns com a nariz escorrendo, outros com apenas os pés descalços.

Estava sentado em uma poltrona, com os pesem cima de uma mesinha de centro. Mesa esta feita com aquela madeira especial e duradoura, tão forte quanto o ferro. E entalhada pelo talento mineiro.

Pude perceber ainda que tinha uma pequena faca na mão com uma lasca de queijo branco na ponta. Que eu comia com uma pressa de baiano.

E da poltrona eu fitava Natalí, e tudo em volta, com o orgulho de um rei satisfeito de ver a prosperidade morando em seu reino.

E feliz por ter encontrado o amor.

Nunca queijo monas me pareceu tão gostoso...

Fez-me até esquecer que a chuva, havia molhado toda a minha roupa.

(B.A.S. – 14/04/2002)

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Sem amor

Vazio...
Ausência de calores e odores.
Uma caneca de café frio sobre a mesa.
E nada de sobremesa.
Nada é doce.
Gostos e sensações já não existem.
Talvez nunca tenham existido.
Talvez nada eu tenha sentido.

No alto da estante, um vaso de flores
Já secas ou mortas por falta d´água.
Ou de atenção, ou por nada.
Aqui, nada acontece.

O cinzeiro ainda sujo e
Garrafas por toda parte,
Que de qualquer jeito parte
Uma consciência minha
Que outrora existiu.
Só que partiu, junto com o álcool.

Perspectivas já não existentes ou
Os desânimos de agora
E um passado tenebroso,
Mais que coexistem.
Interrelacionam-se.
Desespero odioso.
E os meus demônios ainda crêem
Na certa e objetiva desgraça,
Que está por vir.
Que estou por sentir,
Por falta de amor.

(B.A.S. - 05/01/2001)

Algum lugar

Vida, valência, vale, vastidão.
Violência, viola, vislumbre.
Vazante, voracidade.
Viva!

Sonho, sentimento, sexo, sintoma.
Serpente, suspiro, susto.
Santo, suave.
Soberbo.

Amor, amigos, amantes, "affairs".
Ator, atroz, antigo.
Agora, adora.
Aurora.

Eu, você, nós, todos.
Sempre, eterno, constante.
Juntos, somente.
Em algum lugar onde exista.
Um SONHO de AMOR na minha VIDA.

(B.A.S. - 09/12/2001)

O CARTEIRO E O POETA de Antonio Skármeta

País de origem: CHILE

A inusitada amizade entre o poeta Pablo Neruda e seu carteiro Mario, de um cliente só, o próprio poeta. Mario queria algo que nem sabia o que era, mas que o poeta tinha. Não era apenas a intimidade com as palavras, mas o modo de vida. Mario glamurisa seu herói. E esse se torna humano demais fazendo com a relação dos dois se torne eterna e mais forte. Pablo precisa de Mario para não esquecer seu Chile inspirador, suas cores e seu sabor. Mario precisa de Pablo, para não deixar de acreditar em heróis, em amizade e no amor. (B.A.S.)

DOSSIÊ BRASÍLIA - OS SEGREDOS DOS PRESIDENTES de Geneton Moraes Neto

País de origem: BRASIL

Livro de entrevistas feitas com nossos quatro ex-presidentes vivos, por Geneton Moraes Neto. Jornalista experiente, Geneton sai do lugar-comum e das perguntas idiotas e vai direto ao ponto nevrálgico dos entrevistados, sem deixá-los em saia justa. Seu método persuasivo consegue fazer com que nossos ex-presidentes revelem pérolas de seu passado: um Itamar Franco persuadido por congressistas e senadores a fechar o Congresso Nacional; Collor e o "quase-suicídio"; Sarney e testes de bombas atômicas; FHC e intervenção militar na Colômbia. Não é ficção, acreditem. (B.A.S.)