ALGARAVIAS de Waly Salomão

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sábado, 24 de abril de 2010

Fúria Canina

Cães rasgam roupas. Desde aquele moletom que você usa para dormir ao seu sapato de cromo alemão.

Cães fazem assepsia de suas genitálias com a própria boca. E não venha me dizer que comer aqueles corrimentos esverdeados é algo natural.

Cães fazem sexo. Sempre ao ar livre e nunca em lugares pouco movimentados. Gostam de se exibir. Caras obscenas são as que eles fazem sem o menor pudor. Carregados de desdém por qualquer transeunte que esteja passando.

Cães uivam e ladram. Principalmente de madrugada, pois não sabem diferenciar o que pode ser realmente perigo para o seu dono. Ladram com a mesma voracidade tanto para um sapo quanto para um ladrão. E estão literalmente se fodendo se você trabalhou o dia inteiro e está cansado.

Cães comem qualquer coisa. Do mais repulsivo bolinho frito de rodoviária à própria bosta. Sendo que esta, eles prefere comer ainda quente. E isso quando não apenas a pisam ou rolam por cima daquela massa amorfa e fétida. Brincam com a bosta como se fosse um elixir de vitalidade canina.

Cães. Têm que ser vacinados, dar banho, retirar o coco e ir ao veterinário.

Alheias a tudo isso, duas senhoras com seus respectivos cães pequineses no colo, conversavam sobre a vida dos outros, calmamente, aproveitando o sol da manhã em uma pracinha. Hábito este desenvolvido quando ambas descobriram que tinham reumatismo.

- Você viu, Graça, que jeitinho de vagabunda a filha da Tânia tem?

- Já até avisei o meu neto, Rosa. Não quero vê-lo metido com essa piranhazinha.

- É essa tal de educação moderna que os nossos filhos teimam em dar para os nossos netos. Bela merda.

- Depois dizem que nós avós é que estragamos seus filhos.

Nisto, chega a terceira velha, só que esta sem cachorro.

- Bom dia, Rosa! Bom dia, Graça!

- Bom dia, Tânia! Dizem ironicamente as duas.

Sem perceber a ironia, Tânia continua:

- Mas que cachorrinhos mais lindos. Olha só que gracinha, com a camisa da seleção!

Tânia pega a cabeça do cachorrinho de Rosa e a sacode em um carinho totalmente desajeitado. O cão, mesmo tonto, parece gostar. Repentinamente Tânia fala:

- É muito bom ter um cachorrinho assim. Pequenininho, de pêlo curto. Dá tão pouco trabalho, não é?!

E completa:

- Às vezes, é melhor que qualquer cristão.

Ouviu essa, Jesus Cristo?...

(B.A.S. – 28/06/2002)

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