Cães rasgam roupas. Desde aquele moletom que você usa para dormir ao seu sapato de cromo alemão.
Cães fazem assepsia de suas genitálias com a própria boca. E não venha me dizer que comer aqueles corrimentos esverdeados é algo natural.
Cães fazem sexo. Sempre ao ar livre e nunca em lugares pouco movimentados. Gostam de se exibir. Caras obscenas são as que eles fazem sem o menor pudor. Carregados de desdém por qualquer transeunte que esteja passando.
Cães uivam e ladram. Principalmente de madrugada, pois não sabem diferenciar o que pode ser realmente perigo para o seu dono. Ladram com a mesma voracidade tanto para um sapo quanto para um ladrão. E estão literalmente se fodendo se você trabalhou o dia inteiro e está cansado.
Cães comem qualquer coisa. Do mais repulsivo bolinho frito de rodoviária à própria bosta. Sendo que esta, eles prefere comer ainda quente. E isso quando não apenas a pisam ou rolam por cima daquela massa amorfa e fétida. Brincam com a bosta como se fosse um elixir de vitalidade canina.
Cães. Têm que ser vacinados, dar banho, retirar o coco e ir ao veterinário.
Alheias a tudo isso, duas senhoras com seus respectivos cães pequineses no colo, conversavam sobre a vida dos outros, calmamente, aproveitando o sol da manhã em uma pracinha. Hábito este desenvolvido quando ambas descobriram que tinham reumatismo.
- Você viu, Graça, que jeitinho de vagabunda a filha da Tânia tem?
- Já até avisei o meu neto, Rosa. Não quero vê-lo metido com essa piranhazinha.
- É essa tal de educação moderna que os nossos filhos teimam em dar para os nossos netos. Bela merda.
- Depois dizem que nós avós é que estragamos seus filhos.
Nisto, chega a terceira velha, só que esta sem cachorro.
- Bom dia, Rosa! Bom dia, Graça!
- Bom dia, Tânia! Dizem ironicamente as duas.
Sem perceber a ironia, Tânia continua:
- Mas que cachorrinhos mais lindos. Olha só que gracinha, com a camisa da seleção!
Tânia pega a cabeça do cachorrinho de Rosa e a sacode em um carinho totalmente desajeitado. O cão, mesmo tonto, parece gostar. Repentinamente Tânia fala:
- É muito bom ter um cachorrinho assim. Pequenininho, de pêlo curto. Dá tão pouco trabalho, não é?!
E completa:
- Às vezes, é melhor que qualquer cristão.
Ouviu essa, Jesus Cristo?...
(B.A.S. – 28/06/2002)
Nenhum comentário:
Postar um comentário