ALGARAVIAS de Waly Salomão

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segunda-feira, 30 de junho de 2014


MACONHA: SEMEANDO A DISCÓRDIA

 


Ainda não sei ao certo se vale a pena descriminalizar a maconha ou não. Pelo menos eu penso assim.

Ok! Os efeitos negativos da maconha são quase infantis quando comparados aos do álcool, que é uma droga lícita. Não estou aqui para demonizar o álcool ou santificar a maconha. Não existem santos entre essas substâncias.

A verdade é que ainda falta muita informação. Muita mesmo. Os defensores da descriminalização da maconha vão dizer “leia isto”, “acesse aquilo”, “converse com fulano”. Eu tenho, acreditem: lido, acessado e conversado. Nada me convence.

Nunca fumei maconha. Não tenho nem desejo nem curiosidade. Não espero nem honrarias nem um “muito bom, cidadão”, por isso. Não me considero melhor do que ninguém por isso. Há dois anos me tornei pai e, agora, me preocupo um pouco mais com o mundo que vou deixar para ela. Me preocupo, sinceramente, sobre o possível uso de drogas lícitas ou ilícitas que ela possa fazer no futuro. Então, vivencio esta inquietação de agora.

Haverá diálogo, assim espero, entre eu e ela. Espero que meus argumentos e meu exemplo a influencie positivamente.

O problema é o mau uso que se faz dessas substâncias. Você sabia que o êxtase (MDMA) foi desenvolvido em laboratório para ser um medicamento no combate da depressão e da ansiedade? O problema é o mau uso das pessoas não-doentes e o comércio ilegal envolvido nisto.

Você sabia que a cocaína já foi vendida com estimulante em farmácias e que o cigarro de maconha (antigamente chamado de cigarro indígena) era consumido livremente como um cigarro comum e bastante defendido por suas propriedades relaxantes? Ambos a pouco mais de 100 anos atrás.

Alguém pode dizer assim: a maconha está curando até o câncer. Não é bem assim. Maconha não cura nada, pelo menos ainda nada foi comprovado cientificamente. Nem se pode usar pessoas doentes para justificar o uso da maconha na sua forma “recreativa”. Ela é usada em testes nos pacientes de câncer na prevenção de convulsões de difícil controle, caquexia (fraqueza generalizada), inapetência, náuseas causadas pela quimioterapia. Na esclerose múltipla e no glaucoma também tem seus resultados positivos. Não cura, mas atenua sintomas. Já venci um câncer e sei dos desagradáveis efeitos colaterais da quimioterapia.

Como esses pacientes podem se beneficiar das propriedades terapêuticas da maconha atualmente? Fumando um baseado? Claro que não. Através do canabidiol (substância derivada da maconha. É referente a 40% do composto). Teste em humanos revelam-se bem promissores e muitos resultados positivos. O canabidiol é administrado via oral em quantidades específicas, não causa dependência, nem traz ao paciente qualquer efeito da maconha fumada. O problema, novamente, eu repito, é o mau uso que se faz dessas substâncias e o comércio ilegal envolvido nisto.

Alguns militantes pró-liberação da maconha veem no Uruguai a sua nova Ilha do Paraíso. Mujica, seu presidente, político arrojado e corajoso, com muita seriedade, aprova a liberação do consumo entre os uruguaios (turistas estrangeiros estão proibidos) da maconha. O governo uruguaio permite o consumo máximo anual de 480g por pessoa, sempre adquirida em farmácias autorizadas desde que o usuário seja colocado em um cadastro nacional. Sem o cadastro, nada feito. Os usuários que insistirem em adquirir o entorpecente de traficantes serão punido no rigor da lei local. Ou seja, combate ao tráfico de drogas naquele país continua e é tratado de maneira muito séria. Será esse um bom passo? Teoricamente sim, mas o tempo dirá melhor.

Alguém pode ainda falar das questões sociais envolvidas em relação ao tráfico de drogas ou como isto é vivenciado nas camadas mais pobres da população. As mortes prematuras, a banalização da violência, o crescimento das facções criminosas (em território e influência), a superlotação dos presídios, a desvalorização da escola, a desconfiança sobre a polícia.

Todos esses, e outros, são problemas que todas as sociedades que vivenciam o tráfico de drogas precisam se organizar para discutir, formar opinião e, principalmente, agir na resolução dos problemas. Mas algo que, com certeza atrapalha, são pessoas de todas as classes sociais, fumando baseados de suas janelas ou varandas, fazendo questão de esquecer onde foi comprada e quem vendeu a erva. O problema é seu, usuário ou não.

 

(B.A.S. – 29/05/2014)       

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